quinta-feira, 4 de outubro de 2012

CEOS precisam medir o pulso da organização


É moda agora dizer que os presidentes estão procurando se aproximar mais dos funcionários, seja por meio de cafés da manhã, encontros presenciais com centenas de colaboradores, blogs ou eventos interativos transmitidos via internet.
Acho ótimo ver esse movimento acontecendo, mas o que me intriga é: não deveria ter sido sempre assim? Por que só agora os homens do comando decidiram conhecer suas bases? Por qual motivo essa liderança que deveria puxar a motivação das pessoas ficou tanto tempo isolada? Sabemos que existe aí uma questão cultural forte, que remete ainda aos tempos de hierarquia industrial em que cada um tinha que olhar apenas para seu próprio quadrado. Foi nas duas últimas décadas que o nível de comunicação começou a melhorar no universo organizacional. Mas é incrível observar que ainda existe muito CEO distante da base como nos velhos tempos.
Alguns simplesmente preferem se isolar e sentar no seu pedestal - acreditam que conseguem ser bons líderes e entregar resultados se tiverem uma equipe eficiente. Só não percebem que tal postura produz falta de sensibilidade e de contextualização. Não se pode esquecer que a distância faz com que aqueles que não estão do seu lado façam de você uma imagem qualquer. Será que na raiz dessa perda de talentos nas organizações brasileiras não está a falta de lideranças presentes, acolhedoras, que escutam e que transmitem suas crenças?
Outros podem estar sendo mal orientados, induzidos a acreditar que se forem até a base estarão interferindo na operação, e que estando mais distantes têm liberdade para focar na estratégia. Há ainda aquele que simplesmente não sabe se comunicar e prefere se esconder, passar a mensagem para seus diretos e produzir o efeito cascata de transmissão das mensagens. E depois esses líderes não conseguem entender porque as pessoas não vibram e não se sentem comprometidas. A verdade é que o apaixonado vai às bases. Não estou dizendo que todo CEO tem que ser um 'showman'. Cada um tem a sua maneira de chegar ao pulso da organização e não é preciso fingir ser uma pessoa que você não é.
Conversei recentemente com um presidente recém-chegado ao cargo que decidiu, nos seus cem primeiros dias no comando da empresa, fazer uma espécie de 'road show' pelas filiais do grupo no interior, abrindo espaço inclusive para a participação de membros da comunidade local. Em um dos modelos de evento, ele coloca uma cadeira em um palco, fala por cinco ou dez minutos e abre a roda para perguntas. Em algumas situações, promove um debate com empresários da cidade. Os retornos têm sido excepcionais e mostram na prática que não é possível emplacar uma liderança transformadora se não houver paixão, se o topo não estiver ouvindo constantemente todos os seus públicos, especialmente seus colaboradores da base.
E aqui fica meu recado aos CEOs: vocês realmente vão até a base para saber o que os seus funcionários pensam ou esperam que esses reflexos venham subindo por camadas e pela área de recursos humanos? Quantas vezes no ano você se dedica a ouvir genuinamente as pessoas e a falar para elas sobre suas crenças? Você sabe o que o seu trabalhador pensa? Como você consegue dividir com as pessoas a sua causa? Quem está vendo o brilho dos seus olhos? E como você realimenta esse brilho se não estiver com "a turma"?
Se você ainda não faz nada disso ou nem sequer refletiu sobre esse tema, já passou da hora de começar. Mas não leve esse recado como a necessidade de seguir um modismo, e sim como uma postura genuína que precisa ser adotada para o bem da companhia. Os funcionários sabem se o que está sendo falado vem do coração.
Vicky Bloch


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