Jovens dinâmicos e muito mais desempregados

A empresa Kelly Services, referência em recrutamento de pessoas, realizou uma pesquisa sobre as diferentes gerações de trabalhadores, comparando-os e determinando as características mais salientes. O resultado pode ser baixado no site da IDG Connect após um rápido cadastro.

A pesquisa traz conclusões interessante sobre como o mercado de trabalho tem evoluído e como ele está adaptado às necessidades e expectativas das novas gerações, e embora a pesquisa tenha sido realizada nos EUA, há muitas semelhanças com o cenário dos jovens brasileiros que estão à procura de um emprego.

A Geração Y não é uma marca de jeans, mas sim uma classe inteira de jovens fortemente influenciada pela tecnologia e com expectativas incertas de emprego, que chamo de “instabilidade dinâmica”.

Eles são jovens criativos, confiantes, têm grandes expectativas de sucesso pessoal e financeiro, estão à procura de um trabalho que seja gratificante em termos de satisfação e não gostam de ser tratados como “recém-chegados”. Também são estigmatizados pela “falta de lealdade” para com seu empregador e pela atitude arrogante ao não deixar-se intimidar facilmente.

Eles são regidos por uma filosofia, tão bem explicitada pelo Papa Paulo VI quando disse:

“O trabalho somente é humano se ele permanece inteligente e livre.”

Se as gerações anteriores estavam dispostas a mover uma grande quantidade de energia em busca de trabalho ou manutenção de seus empregos, a Geração Y não quer dar toda essa energia e sim  um significado ao seu trabalho, quer um espaço onde possam construir relacionamentos e desenvolver-se através de desafios. Ou seja: é uma geração que vai trocar de emprego o tempo todo, até achar um que lhe satisfaça.

Certamente, essa atitude contribui para um cenário novo e preocupante, afinal, nunca houve tantos jovens desempregados como atualmente.

O que há de errado então? 

Quando a Geração Y fez sua inserção inicial no mercado de trabalho, os empregadores adoravam sua energia e habilidades. No entanto, com as transformações nas expectativas profissionais, os gestores perceberam as dificuldades em compreendê-los, motivá-los e retê-los no ambiente de trabalho. Esse é o grande desafio, pois lidar com os novos talentos é fundamental para manter o sucesso do negócio no futuro.

Bruno de Souza

Esse cenário de desemprego provocado pelas razões apontadas, realmente é um dado preocupante. Os jovens têm um grande anseio por sucesso profissional, apesar de não estar muito claro, para a maioria deles, o que é sucesso. Além disso, já é evidente para eles que, com a “instabilidade dinâmica”, a trajetória se tornou muito mais difícil.

Na tentativa de amenizar essa contradição de ideias, cito a famosa frase de Nicolau Maquiavel: “Os fins justificam os meios”. Queremos o sucesso e lutaremos por ele. Por isso, no exato momento em que a trajetória escolhida deixar de fazer sentido, mudaremos os planos, e de novo, e de novo.

Motivos para isso não faltam e vão desde a falta de identificação com valores da empresa até a indignação com a incoerência dos líderes. Os jovens não são ingênuos, não sonham com um conto de fadas corporativo. Sabemos das imensas possibilidades de transição dentro do mercado de trabalho, somado a um profundo sentimento de esperança de que um dia encontraremos a empresa com as qualidades que desejamos e os problemas que estamos dispostos a superar.

Beatriz Carvalho

É realmente um cenário preocupante e reflete o enorme desafio que os gestores atuais – em sua maioria de gerações mais veteranas – precisam superar. Adaptar-se às novas expectativas profissionais diante de um cenário de intensa transformação é prioridade para qualquer líder, não há como negar.

Entretanto, há um conceito que também precisa ser considerado pelo jovem: buscar a realidade perfeita é uma utopia, inclusive no mundo corporativo. Já faz tempo que a sociedade estimula o jovem a “fazer o que gosta”, mas o verdadeiro sucesso está justamente em “gostar do que faz”, afinal, como qualquer veterano já concluiu com sua experiência, iremos sempre gostar de algo novo, principalmente depois que alcançarmos o objetivo.

Não aceitar isso e trocar de realidade o tempo todo só transforma o jovem em um novato habilidoso, pois não cria situações onde ele possa explorar seus verdadeiros talentos. Isso também é parte do cenário e não há nada que o jovem possa fazer para negar.

Sidnei Oliveira

Fonte: http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/sidnei-oliveira/2012/07/06/jovens-dinamicos-e-muito-mais-desempregados/ acesso em  10 de Julho de 2012.