terça-feira, 18 de junho de 2013

O líder decretou: mídia zero neles.

E que decisão fatal. Acabou com movimentos, rebeldias e manifestações. Até a bandidagem recuou perante a impossibilidade de ganhar mídia. Sem mídia, não existo, diz a nova lei filosófica contemporânea, num passo evolutivo sobre o velho “penso, logo existo”… Claro, as facções mais nobres e fidalgas do crime e da corrupção também adoraram a ideia, pois ser estupidamente ‘low profile’ é uma essência e regra de ouro no crime refinado e nas falcatruas sem sangue aparente. Para esses, ao contrário, um programa de bolsa mídia estampando suas faces em todos os Faces da legião dos 171 dos colarinhos brancos e azuis será sempre o único e verdadeiro verdugo de suas vocações malévolas.
Mas uma experiência na Inglaterra objetivando colocar os hooligans, aquela torcida nazifascista no ostracismo do anonimato, surtiu efeito. Dentre várias providências como punição severa, cadastramento, impossibilidade de irem aos jogos, etc, etc, uma que foi um tiro mortal na cabeça de seus líderes foi terem sido condenados ao anonimato. Decretaram mídia zero para eles. Nada de televisionar e repetir invasões de campo, arruaças briguentas, ou de qualquer feito considerado espetacular. Afinal, sem mídia, a fama não ocorre, os 30 segundos de notoriedade não são obtidos, e a popularidade fica anulada.
E sem esse ganho de “ad value” criminal ou arruaçal, o camarada é transportado imediatamente ao nada. E, então, de que adianta oferecer sua cabeça e seu corpo ao prêmio dos cassetetes endiabrados e do lacrimogêneo gaseificado, das balas de borracha e jatos impiedosos d’água? O grande prêmio da manifestação não civilizada está muito mais no “deu no Jornal Nacional”, saiu na Folha e no Estadão, aconteceu na Veja, na Exame, quer dizer…bombou na mídia e o povo todo está falando.
Mídia zero é um tema extremamente controverso. Difícil separar joios de trigos da questão. Porém a taxa de mortalidade dos crimes, e das propensões estimuladas ao inconsciente do crime, do malefício, devesse ser alvo de um sonoro debate exatamente pelos dirigentes da mídia. O quanto contribuímos para a propagação de modismos e construímos heróis calamitosos, ou o quanto estamos sendo humanistas e democráticos espalhando feitos, fatos e rostos na globalidade, exatamente dessa mediocridade mediática?
Se não mídia zero, talvez com grande certeza: conteúdo, manchetes, chamadas e “olho” analisados com alta profundidade pelos psicanalistas, psiquiatras, psicólogos e cientistas da educação. Mídia zero aos medíocres que esperam notoriedade e bolsa mídia aos enrustidos que contam com a impunidade do anonimato.
José Megido

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