O gestor estava ficando cada vez mais incomodado com os constantes comentários negativos da equipe. Seu sonho sempre foi ser um grande executivo, mas não necessariamente um líder. Sabia que não levava muito jeito para “agente motivacional”, apesar de ser conhecido como paciente e camarada pela maioria dos amigos.
Achou melhor não dar muito ouvidos às reclamações, pois sabia que tinham um fundo de verdade, o clima organizacional sempre foi terrível e ninguém nunca havia conseguido mudar. Sua lógica era de que se estava muito ruim agora, não era motivo de desespero, pois daqui a pouco voltaria a ficar “menos pior” novamente. Semanas e meses se passaram e o cenário não melhorou nem um pouco. Alguns saíram da empresa com medo de uma contaminação irremediável daquele pessimismo, e os que ficaram, não só reclamavam, como não tinham mais o rendimento de antes. Mas isso ainda nem era o que mais o incomodava, senão o fato de começarem a torcer pelo fracasso dos projetos quando ainda nem haviam sido implantados.
Contudo, motivado por razões desconhecidas, o gestor decidiu dar um basta naquela situação, definitivamente, nem que para isso tivesse que tomar decisões drásticas. Achou melhor convocar a equipe para uma conversa antes de qualquer atitude precipitada.
– Estou cansado do comportamento negativo de vocês. Todo mundo só reclama, ninguém mais tem foco no trabalho e ainda tenho que escutar piadinhas sarcásticas sobre qualquer decisão da diretoria. Parece que vocês sempre torcem contra! Não estão gostando das decisões? Ok. Se vocês querem dar suas opiniões a respeito de qualquer coisa, assim será, este é o momento. Vamos lá, falem!
Um silêncio fuzilador dominou a sala de reunião.
– Ninguém vai falar? – disse o gestor. – Agora que vocês têm a oportunidade, ninguém vai falar? Pois então eu sugiro que saiamos daqui com uma boa solução deste caso, pois a diretoria já está ciente do que está acontecendo e me deu pleno aval para resolver sozinho, se assim for necessário.
O silêncio persistia. Ele continuou:
– Gostaria de lhes fazer uma pergunta. Por que vocês não chegam com soluções ao invés de críticas? Se as ideias me fossem apresentadas estruturadamente, não estaríamos tendo este tipo de problema. Vocês não vestem a camisa da empresa e eu estou realmente esgotado disso.
O gestor estava quase perdendo as forças para tentar qualquer solução amigável, e quando estava prestes a dispensar o pessoal para começar a pensar no plano de demissões, uma pessoa ao fundo da sala levantou a mão. Era o funcionário que ele mais admirava e acreditava no potencial, isso meses atrás, antes dele “virar a casaca” e se tornar mais um que reclamava na equipe.
– Também estamos cansados! Todos que iniciam nessa empresa percebem rapidamente os problemas de clima organizacional que existem, e que também ninguém mais faz questão de esconder. Só que a motivação interna do iniciante ainda é maior, suficiente, na visão dele, para sustentar uma luta individual pela mudança. Mas tudo aqui é muito burocrático. As ideias precisam virar projetos e os bate-papos, apresentações em PowerPoint. E ainda assim as sugestões nunca vão adiante. Sempre existe uma desculpa para justificar a impossibilidade de implantação. E então, depois de inúmeras tentativas, obviamente você não consegue mais sustentar a mesma motivação de antes, seu rendimento cai, a figura do líder que ajuda a “segurar a onda” não existe… E ainda temos que escutar que não vestimos a camisa?!
O corajoso rapaz completou, então, dizendo:
– Acho que precisamos, com urgência, resgatar alguns conceitos de Gestão de Pessoas. Por mais que uma empresa dependa dos resultados, são nas pessoas que ela deve concentrar seus esforços. Nunca tivemos interesses em comum, então, cada um começou a seguir por uma direção. Quando vocês se deram conta do que estava acontecendo, tentaram resolver, só que fazendo as perguntas erradas. Não basta saber “qual é o problema” e “qual é a solução”, é preciso se atentar ao por que disso tudo. Do contrário, essa falta de profundidade no entendimento da situação acaba gerando soluções paliativas, que uma hora cansam. E a consequência óbvia disso é justamente começar a escutar respostas que vocês não estavam prontos para ouvir.

Aos poucos foram todos saindo, menos o gestor, pensativo, que não viu outro jeito a não ser pegar o telefone e ligar para o RH:
– Ana? Oi, tudo bom? Podemos definir ainda hoje aquela questão sobre as minhas férias?
Beatriz Carvalho
É muito interessante observarmos como esse cenário é recorrente atualmente, o que denota um aspecto positivo: as empresas abrem um espaço para que essa discussão aconteça.
De fato, o bom líder tem que gostar de gente, saber criar vínculos e ser um ótimo comunicador, para que todos em sua equipe “remem” na mesma direção, ele também precisa ser próximo e participativo. Todo resultado parte de uma construção… Cada indivíduo é único, tem diferentes expectativas e necessidades para se desenvolver, ser produtivo e, quem sabe, ir além de seus limites. O bom líder deve saber “ler” essas particularidades. Acredito que, para isso, ele tenha que se conhecer, saber quais são os seus limites, seus desejos e objetivos.
Os líderes mais importantes na minha carreira foram aqueles que estiveram próximos, me conheceram, me inspiraram e fizeram com que eu fosse além daquilo que eu mesma achava que seria capaz.
Sabemos que, na maioria das vezes, essa nova reponsabilidade é conquistada por realizações técnicas e deixa-se de lado um aspecto fundamental: esse profissional está preparado para a liderança? Ele foi treinado para isso? Ele é reconhecido por saber construir e gerenciar relações humanas? E o primordial: ele quer ser um líder?
Larissa Borba Li
Uma das ironias da vida executiva é um profissional receber a responsabilidade de liderar um grupo de pessoas sem que tenha desenvolvido o mínimo tato interpessoal, ou seja, não estar preparado para as sutilezas do relacionamento. Um gestor assim pode destruir o clima organizacional e promover apenas a improdutividade.
Concordo com a Larissa quando diz que o caminho é o autoconhecimento e o preparo para o exercício da liderança. Vale, nessa questão, desenvolver o gestor para alcançar resultados e cuidar do processo, mas, principalmente, para cuidar da equipe em seu desenvolvimento, assim como nos relacionamentos.
Sidnei Oliveira
Fonte: http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/sidnei-oliveira/2013/03/04/gestao-de-pessoas-voce-esta-fazendo-do-jeito-errado/ acesso em 05 de março de 2013.
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