quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Sustentabilidade e redes sociais


Como explica neste artigo, Ricardo Abramovay entende que estas são as bases da inovação do Século XXI, que está pautada em quatro vetores

A inovação do Século XXI será, cada vez mais, norteada por quatro vetores, que não fazem parte da maneira como a esmagadora maioria das empresas se organiza hoje, na visão de Ricardo Abramovay, professor titular do Departamento de Economia da FEA e do Instituto de Relações Internacionais da USP.

Ao Portal HSM, ele dá uma prévia da palestra que apresentará na Estação de Conhecimento Sustentabilidade em Foco, da Mostra de Conteúdos e Soluções da HSM ExpoManagement 2012. Confira:

Em primeiro lugar, o desafio central da inovação contemporânea está menos no aumento da produtividade do capital e do trabalho do que no menor uso possível de energia, de materiais e na redução ao mínimo da poluição e das emissões de gases de efeito estufa.

Em segundo lugar, é urgente que a inovação contribua para substituir a economia da destruição da natureza, marca decisiva da ocupação dos principais biomas, sobretudo nas regiões tropicais, pela economia do conhecimento da natureza, que faz do uso sustentável da biodiversidade uma fonte de ganhos empresariais.

O terceiro vetor vem da sociedade da informação em rede e se exprime tanto na ampliação de formas colaborativas de produção, consumo e comercialização, quanto em métodos que valorizam a iniciativa de indivíduos e das redes sociais e dos quais a energia distribuída e a impressora em três dimensões estão entre os exemplos mais recentes.

O quarto vetor (e que, de certa forma, unifica e imprime coerência aos três anteriores) é o que coloca cada vez mais a ética no centro da vida e das decisões econômicas: mais importante do que as conquistas científicas que permitem melhor usar a biodiversidade, reduzir a intensidade material e energética da oferta de bens e serviços e apoiar-se sobre redes sociais é saber a real utilidade daquilo que a economia oferece à sociedade, ou seja, a capacidade que a riqueza crescente do mundo contemporâneo tem de propiciar prosperidade para as pessoas, as comunidades e os territórios onde vivem.

É excesso de otimismo imaginar que estes quatro vetores se imporão aos comportamentos empresariais por força da própria concorrência entre as empresas. Na verdade, são imensas as oportunidades de ganhos que ainda se apoiam nas regras estabelecidas por aquilo que Pavan Sukhdev caracteriza, em seu último livro, Corporation 2020, como “corporações 1920”, ou seja, empresas que cumprem a legislação, mas sem preocupação explícita com os efeitos do que fazem sobre a vida social. As vantagens concorrenciais do uso predatório dos recursos e da oferta de produtos e serviços que degradam a vida social são ainda extraordinariamente grandes.

A ideia de que bastam incentivos corretos para que as empresas consigam compatibilizar seu enriquecimento com a manutenção dos serviços básicos dos ecossistemas e com a necessidade de sociedades menos desiguais e mais coesas vai se mostrando pouco verossímil. Não há desafio competitivo mais importante para o setor privado que o de usar o poder dos negócios para contribuir à solução dos grandes problemas socioambientais enfrentados hoje pela espécie humana.

Ricardo Abramovay


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