terça-feira, 26 de maio de 2015

Geração Y mostra-se menos confiante quanto ao futuro
Rotatividade da mão-de-obra, que é mais elevada entre jovens, já mostra sinais de queda em decorrência da piora no mercado de trabalho
A geração Y, formada pelos jovens nascidos entre o final da década de 70 e da década de 90, deve enfrentar pela primeira vez uma piora significativa nas condições do emprego desde que entraram no mercado de trabalho, no início dos anos 2000. Em sua primeira crise econômica, ela mostra-se relativamente menos confiante quanto ao futuro do que a geração X, formada pelos indivíduos nascidos nas décadas de 60 e 70, e que entraram no mercado de trabalho entre os anos 80 e 90, período no qual a economia brasileira passou por sucessivas crises econômicas. É o que mostra estudo inédito elaborado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (FecomercioSP) a partir dos dados do Índice de Confiança do Consumidor (ICC), divulgado mensalmente pela FecomercioSP desde junho de 1994, do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do Ministério do Trabalho e da Pesquisa Mensal do Emprego (PME) do IBGE.

Embora não haja um consenso a respeito da classificação das gerações, pode-se dizer que fazem parte da geração Y - ou geração net - os jovens nascidos entre o final da década de 70 e da década de 90, que cresceram imersos no ambiente digital, em um período de enorme prosperidade econômica. Os jovens dessa geração, normalmente caracterizados pela ansiedade excessiva, têm movido intenso debate entre especialistas da área de recursos humanos. Hoje no mercado de trabalho, já ocupando inclusive cargos de liderança e muitas vezes criticados pela falta de paciência, por mudarem frequentemente de emprego, eles estão enfrentando a sua primeira crise econômica.

Segundo o IBGE, a taxa de desemprego no país caiu de 10,9% em dezembro de 2003 para 4,3% em dezembro de 2014. No início de 2009, por causa do impacto da crise internacional na economia brasileira, o desemprego chegou a dar sinais de aceleração, mas as ações do governo naquele momento foram capazes de reverter o quadro e, já na metade do ano, o indicador retomava a tendência de queda.
A política de pleno emprego, que manteve o índice nos patamares mais baixos da série histórica até o final do ano passado, acabou gerando desequilíbrios macroeconômicos significativos. A economia brasileira precisará passar agora por ajustes recessivos que terão impactos negativos na atividade econômica por um ou até dois anos e devem, consequentemente, afetar o mercado de trabalho e elevar a taxa de desocupação. Entre abril do ano passado e abril deste ano, a taxa de desemprego já subiu de 4,9% para 6,4%. A maior alta da taxa foi observada exatamente entre jovens-de 18 a 24 anos.

O ICC permite que sejam levantadas hipóteses a respeito da forma como a geração Y está encarando o atual cenário de crise, e se seu comportamento é diferente, por exemplo, do observado para os jovens da geração X em crises passadas. O índice mede o "humor" dos consumidores mediante sua percepção relativa às suas condições financeiras atuais e futuras. Ele é composto por dois subíndices, o Índice das Condições Econômicas Atuais (ICEA) e o Índice de Expectativas do Consumidor (IEC).
A partir de maio de 1999, a FecomercioSP passou a divulgar o ICC, o ICEA e o IEC segmentados por idade - consumidores com até 35 anos e consumidores com mais de 35 anos. Consumidores nascidos na década de 60 e até meados da década de 70 - da geração X, portanto -, de maneira geral, tinham até 35 anos no final dos anos 90 e início dos anos 2000. Os consumidores que, hoje, têm até 35 anos, por sua vez, fazem parte da geração Y. O fato de o período entre 1999 e 2001 ter sido marcado por seguidas crises - desvalorização cambial, crise energética, crise da Argentina, ataques terroristas no EUA - permite, assim, uma comparação entre a percepção dos jovens das duas gerações diante de um quadro de crise econômica.

A tabela acima traz uma comparação do ICEA e do IEC de consumidores até 35 anos e com mais de 35 anos em dois momentos distintos. Chama a atenção o descolamento entre a avaliação da situação atual e a percepção das condições futuras dos jovens da geração X no final dos anos 90 e início dos anos 2000, o que não é observado atualmente para a geração Y. Ou seja, embora a situação econômica afetasse negativamente a avaliação da geração X em relação àquele momento, ela era relativamente otimista quanto ao futuro.
No caso da geração Y, o ICEA e o IEC encontram-se bastante próximos, sugerindo que a percepção das condições atuais é bem semelhante à expectativa para o futuro. Isso pode ser reflexo exatamente da ansiedade característica dessa geração, que teria dificuldade de diferenciar presente e futuro. Outra possível explicação está ligada ao desenvolvimento econômico brasileiro dos últimos 20 anos: enquanto, para a geração anterior, era de se esperar uma condição futura muito melhor do que a de seus pais, o mesmo não é verdade para boa parte da geração Y.

A convergência entre o ICEA e o IEC também é observada quando são considerados os consumidores com mais de 35 anos de idade. E, historicamente, estes consumidores são menos confiantes em relação às suas condições financeiras do que os mais jovens. Ainda assim, entre janeiro de 2013 - quando os indicadores iniciaram sua trajetória de queda - e abril deste ano, o ICEA superou o IEC em 0,3 ponto percentual no caso dos consumidores com até 35 anos.
No caso dos consumidores com mais de 35 anos, a média do IEC foi mais de 4 pontos percentuais superior à média do ICEA. Quando são feitas as mesmas comparações para o período entre 1999 e 2001, essa inversão não é observada. Em outras palavras, a expectativa dos consumidores da geração Y é relativamente menor. É interessante notar que, durante as últimas eleições, O ICEA e o IEC dos consumidores de até 35 anos mantiveram-se muito próximos, enquanto houve um descolamento - maior crescimento relativo do IEC - no caso dos consumidores com mais de 35 anos.
A análise, portanto, vai ao encontro da percepção de que a ansiedade seria um dos traços característicos da geração Y, o que se reflete em uma maior rotatividade da mão-de-obra entre os jovens: segundo dados do Ministério do Trabalho, em 2011, por exemplo, a rotatividade da mão-de-obra de jovens entre 18 e 29 anos era de 55%, ante 44% quando é considerada toda a população empregada formalmente. Uma maior rotatividade, em um cenário de queda do desemprego - como o observado até então -, pode significar que, em busca de melhores oportunidades e rápido crescimento profissional, os jovens vinham mudando com maior frequência de emprego.

O cenário, entretanto, mudou. Após uma redução no ritmo de criação de vagas ao longo de 2014, em 2015 a taxa de desemprego voltou a subir. O menor ritmo de criação de vagas foi acompanhado por uma queda na rotatividade da mão-de-obra entre os trabalhadores mais jovens. Mais do que uma mudança de comportamento desse extrato da população, essa redução parece mesmo reflexo de uma diminuição das oportunidades observadas no mercado de trabalho.

Diante do novo cenário, a geração Y, em sua primeira crise econômica, precisará aprender a lidar com a ansiedade que lhe é tão característica.
Fonte: Administradores – 22/05/15


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