quarta-feira, 30 de abril de 2014

"No Brasil é fácil roubar dados", diz Kaspersky - 19/03/2014

Seus amigos estão em sua página na rede social, suas músicas ficam guardadas na nuvem, seus filmes são baixados de sites disponibilizados pela companhia de televisão a cabo, seus filhos brincam com tablets online, a maior parte de suas conversas acontece pelo celular e, acima de tudo, algumas das informações mais preciosas da empresa em que você trabalha frequentemente estão ao alcance de um clique em seu computador.
A cada dia que passa, a economia digital está mais misturada à tradicional — e isso traz riscos, tanto na esfera pessoal quanto na profissional, muitas vezes negligenciados.
Para Eugene Kaspersky, presidente da empresa de segurança Kaspersky Lab, que conta com 250 000 clientes corporativos em 200 países, esse é um fenômeno global, mas alguns povos estão mais vulneráveis do que outros. Nesse ponto, o Brasil aparece como um destaque negativo.
As empresas brasileiras têm perdas financeiras causadas por descuidos de seus funcionários bem acima da média mundial. “As revelações do programador Edward ­Snowden sobre o trabalho da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos dão uma dimensão do que pode ser espionado nos dias de hoje”, diz Kaspersky.
As pessoas estão mais atentas à segurança digital após as revelações de Edward Snowden?
Eugene Kaspersky - É raro encontrar quem tenha mudado o hábito na internet depois do escândalo da NSA. A realidade é que não existe mais privacidade no mundo online. As pessoas sabem que o que elas escrevem no e-mail e na rede social está sendo monitorado e não acham isso um problema. Elas pensam: “Não estou fazendo nada de errado, então não preciso me preocupar”. 
EXAME - E quem ainda preza pela privacidade, o que pode fazer? 
Eugene Kaspersky - A solução, que parece piada, é ir morar na Floresta Amazônica ou na Sibéria, bem longe de uma conexão. Qualquer pessoa com um celular pode ser espionada. As denúncias de Snowden não trouxeram nada de novo. Só ajudaram a mostrar como a espionagem digital é mais comum do que imaginávamos.
Como isso afeta as empresas?
Eugene Kaspersky - O acesso a informações corporativas, com a explosão de aparelhos conectados, ocorre com mais facilidade. As pessoas também estão deixando de se preo­cupar com segurança por saber que são vigiadas independentemente de sua vontade.
Clicam em links suspeitos e enviam e-mails com detalhes de projetos sigilosos sem pensar nas consequências. Cerca de 40% dos funcionários de grandes empresas globais não seguem as regras de segurança sugeridas pela área de tecnologia.
Quais são as consequências? 
Eugene Kaspersky - Um projeto roubado de um e-mail de um gerente pode custar milhões de dólares. Isso sem falar em vírus que comprometem os sistemas de TI e fazem a empresa parar por horas, às vezes dias.
Por que as empresas parecem estar mais desprotegidas hoje, apesar de todo o avanço na área de softwares para segurança digital?
Eugene Kaspersky - Há um aumento no número de tentativas de ataque. Há três anos, detectávamos 70 000 ataques de hackers a empresas por dia no mundo. Hoje, são 300 000. As técnicas dos criminosos também estão mais sofisticadas. Antes, criava-se um vírus para roubar a senha de clientes de banco e transferir dinheiro para contas de laranjas.
Uma vez detectado, as empresas criavam uma “vacina” para o vírus e sanavam o problema. Hoje, muitos ataques a redes de empresas são de espionagem. Sabemos que uma companhia teve o sistema invadido, mas só é possível descobrir o objetivo dos criminosos quando eles usam os dados roubados. Eles podem exigir um resgate pelos dados ou vendê-los a concorrentes no mercado paralelo. 
Quais as regiões do mundo em que as empresas são mais vulneráveis?
Eugene Kaspersky - As empresas brasileiras estão entre as que mais sofrem justamente por causa da falta de cuidado de seus funcionários. A média de perdas financeiras geradas por ataques digitais a corporações na região chega a ser 20% maior do que a do resto do mundo. É uma questão cultural.
O brasileiro é um povo curioso. Quando recebe um e-mail com uma mensagem sugestiva, não se segura e acaba clicando no link de fotos, o velho golpe. Não adianta a empresa investir num sistema de segurança se um funcionário acha que está fazendo um “grande negócio” clicando numa rede de Wi-Fi grátis num aeroporto. A chance de ser uma armadilha para roubar dados é enorme.
Atualizada em 28/4: Diferentemente do que foi publicado anteriormente, Eugene Kaspersky não foi agente da KGB. Ele estudou no Instituto de Criptografia, Telecomunicações e Ciências da Computação, que foi patrocinado pelo Ministério da Defesa da Rússia e pela KGB.
Bruno Ferrari

Fonte: EXAME, acessado em 30 de Abril de 2014.

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