terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Que crise é esta na qual a Microsoft lucra como nunca?

Há uma impressão generalizada no mercado de tecnologia que a Microsoft está enfrentando uma crise terrível. A incapacidade de se posicionar no setor mobile seria a bala de prata que derrubaria o que já foi a maior empresa de tecnologia do mundo por anos. Sem tablets e smartphones de sucesso, a Microsoft dependeria da venda de Windows e Office, em queda junto à venda de PCs e laptops.
A dúvida que paira sobre o assunto é quando uma queda muito acentuada aconteceria. Quando as vendas do Windows e do Office encolheriam o suficiente para impactar negativamente a balanço financeiro e fazer a empresa encolher? Nos últimos trimestres, porém, a Microsoft tem dado provas que a questão não é “quando”, mas “se”.
Na sexta, a companhia anunciou que teve receita (US$ 24,5 bilhões) e lucro (US$ 6,56 bilhões)recordes no segundo trimestre fiscal de 2014. Ou seja: a Microsoft lucra como nunca. Em dezembro, o valor da ação atingiu US$ 38,9, seu pico em 13 anos. Cadê a crise? Uma analisada mais atenta ao relatório financeiro dá algumas dicas do que passa com a Microsoft.
Sob a nova divisão de categorias introduzida no ano passado, a Microsoft reporta resultados de duas grandes categorias: Devices and Consumer (onde estão Xbox, Surface, Bing e Windows e Office para o consumidor final) e Commercial (Windows Server, Azure, Dynamics, Office 365 e Windows e Office para grandes empresas).
A Devices and Consumer reúne os produtos mais conhecidos da Microsoft, com Windows e Office como líderes. A receita de licenças do sistema Windows caiu 3%. Dado que a queda geral no mercado de PCs foi maior (IDC e Gartner falam em 10% no ano passado), os dados podem ser considerados bons. Já o faturamento do Office despencou 24%. Os dois produtos sempre foram a galinha de ovos de ouro da Microsoft. Aqui dá pra ver que a esperada queda financeira está acontecendo.
Há, porém, notícias boas na divisão. A receita da divisão responsável pelo tablet Surface mais que dobrou: de US$ 400 milhões para US$ 893 milhões. A Microsoft não fala se dá lucro e o número, mesmo após dobrar, ainda é menor que o prejuízo de US$ 900 milhões que a empresa engoliu por não vender tantos Surface RTs. Se somarmos os tablets Surface mais os smartphones da Nokia, pode-se dizer que a Microsoft vendeu cerca de 10 milhões de gadgets móveis no último trimestre. No terceiro trimestre, a Apple vendeu 45,8 milhões de produtos, entre iPhones e iPads. Ainda é pouco para tablets e smartphones, mas mostra que os números vêm crescendo.
Outro destaque foi a subdivisão de Xbox: foram 7,4 milhões de consoles, sendo 3,9 milhões do Xbox One e 3,5 milhões de Xbox 360. O mais surpreendente dos dois números: um gadget com mais de nove anos vendeu quase o mesmo que um recém-lançado, ainda mais por que o Xbox One vendeu menos que seu rival Playstation 4, da Sony (4,2 milhões de unidades).
Mas quem compensou de verdade o baque financeiro dos produtos e serviços para consumidores foi a divisão Commercial, voltada a clientes corporativos. O Windows Server faturou 12% mais que no ano passado. O dinheiro vindo da nuvem mais que dobrou e até o licenciamento de Windows para grandes empresas cresceu 10%. No geral, a divisão faturou 10% a mais que no mesmo trimestre do ano passado, baseado em serviços que o usuário comum não faz a menor ideia que a Microsoft oferece. Apresente ao seu tio nomes como Azure, Hyper-V, Dynamics CRM ou SQL Server e pergunte de qual empresa de tecnologia são estes produtos. Aposto um picolé de limão que ele vai te olhar com cara de dúvida.
Eles não são populares, mas rendem muito dinheiro. Foi o caminho da IBM: deixou de ser objeto de desejo para os mais jovens, mas se transformou em uma empresa bastante lucrativa. A comparação não é inédita e, sempre que citada, é evocado o nome de Louis Gerstner, o CEO que salvou a IBM da bancarrota e a transformou em uma das maiores prestadoras de serviços de TI do mundo. Mas há uma diferença fundamental entre a IBM da década de 90 e a Microsoft de agora: a segunda não está sob nenhum perigo financeiro. Nenhum.
Não se sabe quanto mais o mercado de desktops e laptops vai cair. A dúvida do tamanho do buraco onde a Microsoft se meteu esta aí. Mesmo que ainda despenque mais (e os indícios é que a queda está desacelerando), a empresa tem mostrado que tem outros meios de fazer dinheiro.
Mérito, quem diria, da estratégia de dispositivos e serviços martelada por Steve Ballmer nos últimos anos. O folclórico CEO pode ter cumprido sua cota de estratégias erradas no passado (a compra da aQuantive, o natimorto Kin, o ultramobile Origami, a tentativa de peitar o Google em busca…), mas parece que vai entregar ao seu sucessor a Microsoft em uma situação não tão ruim assim. Sua saída é indício de que a empresa não está vivendo um paraíso. Entre smartphones e tablets, ela vai ter que brigar com a dupla Motorola/Google para tomar a posição de alternativa entre Apple e Samsung. Mas os números dos últimos trimestres mostram também que o fatalismo ao seu redor é exagerado.

Fonte: Epoca Negocios. Que crise é esta na qual a Microsoft lucra como nunca?Acesso: 28 de Janeiro de 2014.

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