sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Breve história da autonomia no trabalho

Autonomia tornou-se uma palavra da moda nas questões de carreira. Todo mundo aspira ter alguma liberdade para exercer suas tarefas profissionais. Hoje, trabalhos que não oferecem uma dose de independência são vistos como opressivos e controladores. A reportagem de capa da edição de outubro da VOCÊ S/A mostra que existem muitas compreensões do conceito de autonomia.Pode ser fazer uma tarefa sem ter de perguntar ao chefe como ou pode ser a liberdade de escolher que tipo de empresa merece contar com seu talento. Mas, do ponto de vista da história, só nos últimos 50 anos o trabalhador pode opinar sobre essa questão.
No dicionário, autonomia é descrita como a capacidade de governar a si próprio. Dessa forma, pode ser usada tanto para pessoas quanto para países. Na história, esse conceito aparece pela primeira vez na Grécia Antiga, para indicar cidades que não eram submissas à dominação de outras mais poderosas.
A ideia de que o conceito vale também para indivíduos só ganhou consistência na Idade Moderna, com o Iluminismo do século 18. O filósofo Immanuel Kant (1724 – 1804) entendia que o homem poderia escolher racionalmente sua moral, sem ter de sujeitar-se à religião ou adotar uma posição de ceticismo.
No mundo do trabalho, a discussão de autonomia apareceu em meados do século 20, quando começa a ser questionado o modelo da Revolução Industrial, aquele baseado em tarefas repetitivas, rotineiras e simplificadas. No século 19, autonomia não era uma questão. O trabalhador era um mero apertador de parafusos, que trocava seu esforço por dinheiro, sem ter de tomar nenhuma decisão. Um retrato manjado desse tempo é personagem de Charlie Chaplin em Tempos Modernos.
Ao longo do século 20, cresceu a consciência de que atividades que envolviam o raciocínio e a tomada de decisão não podiam seguir a mesma lógica da tarefa padronizada da indústria. Neste tipo de trabalho, em que é preciso pensar, questões pessoais como satisfação e motivação definem a capacidade de realização e de entrega da tarefa.
Dentro dessa visão, um dos estudos mais importantes de autonomia é o do americano Edgar Schein, professor da Sloan School of Management do MIT (Massachusetts Institute of Technology), dos Estados Unidos, e provavelmente o nome que mais influencia a gestão de recursos humanos hoje em dia.Em um conceito chamado Âncoras de Carreira, que ele mesmo criou, Schein enumera oito elementos – desafio, causa, segurança, criatividade, autonomia, competência técnica e competência gerencial. Cada pessoa dá importância diferente a estes elementos e aqueles dos quais ele não abre mão são suas âncoras de carreira. Isso significa que muitos profissionais consideram autonomia um quesito indispensável nas escolhas de carreira.
Um livro recente que sintetiza a forma como as pessoas enxergam autonomia no trabalho é Motivação 3.0 (Ed. Campus Elsevier), do escritor americano Daniel Pink. Nesta obra, o autor reúne uma série de estudos que comparam os diversos tipos de motivação que um profissional tem para cumprir uma tarefa. Basicamente, Pink divide as motivações entre as extrínsecas e as intrínsecas. O primeiro grupo são os fatores externos, como o dinheiro por exemplo.
No segundo, estão as motivações que vêm, digamos, do fundo do coração. Entre estas, está a autonomia. Para Pink, a autonomia é o desejo de dirigir a própria vida – nada de muito diferente da definição do dicionário. Ao lado da autonomia, estão a excelência, que é o desejo de dominar uma habilidade e fazer cada vez melhor, e o propósito, que é o desejo de fazer coisas em nome de um propósito maior.
Para Pink, quando o profissional compreende como e em que situações esses três fatores fazem a diferença em seu trabalho, ele consegue entrar num círculo virtuoso de trabalhar mais motivado, ser mais produtivo e se destacar, o que proporciona satisfação e o desejo de trabalhar mais.

Fonte: Exame.com, acesso em 18 de outubro de 2013.

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