terça-feira, 21 de maio de 2013

O verdadeiro potencial da Internet: aberta, inclusiva e gratuita


"Uma das características fundamentais da Internet é que com um simples clique chegamos a todo o lado. Não existe uma Internet francesa nem uma Internet inglesa: estão todas ligadas e não podem ser separadas. A Internet não está dividida em documentos de qualidade e documentos sem qualidade e também não está dividida em Internet acadêmica e Internet comercial. Não existe discriminação, trata-se de uma única Internet, livre e acessível. É aí que reside o seu poder" (Tim Berners-Lee).

Vamos ser bem francos: a Internet não é o que representa hoje por causa da vontade dos empresários ou porque algum visionário patronal acreditou que ela algum dia poderia ser lucrativa. Ela, desde o início, não foi desenvolvida de forma proprietária, não existe a patente da Internet. Se existisse, até hoje ela seria privilégio de meia dúzia de instituições de ensino superior dignas de rankings globais.

Não é muito cômodo para um administrador liberal admitir, mas a Internet tem um quê de comunista. Melhor, de idealista. Que empresa iria se interessar em investir num projeto de lucros incertos, e que iria ser tão útil para ela quanto para os seus concorrentes? Antes de Tim Berners-Lee liderar a criação da World Wide Web (WWW) - que constitui a parte "pública" da internet - várias pessoas tinham os seus micro-provedores independentes de serviços baseados em linhas telefônicas: os Bulletin Board Systems (BBS). O melhor exemplo de empreendedor brasileiro nessa área é Aleksandar Mandic.
Quando Berners-Lee começou a idealizar e desenvolver uma rede global de computadores, não foi para iniciar um novo negócio. A meta era justamente essa: uma rede aberta, global, inclusiva e democrática, sem muita preocupação de como as pessoas iriam utilizá-la, muito menos sobre direitos autorais ou patentes. Iniciativas de software livre - como o Linux e o GNU Project - e acesso aberto às informações - como o Projeto Gutenberg - certamente influenciaram a criação da WWW. Ou talvez todas elas representassem uma ampla necessidade de informação das pessoas, que simplesmente não estavam mais satisfeitas com as soluções propostas pelo mercado.
Aliás, um dos erros capitais de qualquer empresa é acreditar que as pessoas se importam com a sua tecnologia patenteada e exclusiva. Ou que elas irão pagar qualquer valor para ter acesso a informações exclusivas e lacradas por editoras de conteúdo. Isso leva os negócios a uma entropia caracterizada pela criação de "metatecnologias" (neologismo meu). Um exemplo? Livros, filmes e músicas digitais protegidos por DRM (Digital Rights Management), e bases de dados científicos trancadas e com acesso condicionado ao pagamento de somas vultosas a editoras comerciais.
Como bibliotecário em formação, sou totalmente partidário do pensamento de Aaron Swartz, ciberativista que foi condenado a 35 anos de prisão a uma multa estipulada em mais de um milhão de dólares por acessar, baixar e distribuir material científico restrito do MIT. É para isso que a Internet existe; se uma empresa não está preparada para lidar com esse tipo de comportamento, então é ela quem não se encaixa na lógica da Web e deveria tentar a sorte no mundo offline.
"Precisamos pegar a informação, onde quer que ela esteja armazenada, copiar e compartilhá-las com o mundo. Precisamos pegar as coisas que estão livres de copyright e adicionar aos arquivos. Precisamos comprar bases de dados secretas e colocá-las na Web. Precisamos baixar periódicos científicos e publicá-los em sites de compartilhamento".
Ainda é raro ver alguém ligado à indústria cultural ter o mesmo pensamento de Michael Lombardo, diretor de programação da HBO, que tem direitos exclusivos sobre a série Game of Thrones. "Eu provavelmente não deveria falar isso, mas a pirataria é uma espécie de elogio", disse, em entrevista à Entertainment Weekly. A série, em sua terceira temporada, é um dos programas de maior audiência dos Estados Unidos, com uma média de 10 milhões de telespectadores por episódio. Como a HBO - que não está de acordo com o pensamento de Lombardo - é um canal fechado e não tem parceria para transmissão da série em outros canais, muitos fãs recorrem aos torrents.
A Internet não é um condomínio fechado dos negócios e marcas. A Internet não é um celeiro de publicidade. A Internet não deve ser "catraquizada" - nas palavras do professor Pedro Rezende. O princípio da Neutralidade da Rede deve respeitado pelas operadoras independente dos seus interesses comerciais. O verdadeiro potencial da Internet reside em reunir as mentes conectadas em um único e amplo diálogo. Não no sentido sisudo da coisa, mas no sentido de possibilitar o contato de pessoas distantes fisicamente em uma gigantesca ágora virtual, onde as relações ocorrem tal como no mundo físico - incluindo piadas, memes, discussões, agressões, policiamento ostensivo, leis, aprendizado, leitura e todo tipo de fenômeno que ocorre em qualquer sociedade. A Internet não é uma entidade criada por pessoas - ela é as pessoas. E as pessoas devem ser livres.
Eber Freitas 

Nenhum comentário:

Postar um comentário