O autor britânico Adam Smith, filósofo e economista do século 18, escreveu que o bem-estar está associado à satisfação de necessidades. Fome, frio, insegurança e doenças são situações desfavoráveis para as quais surgem necessidades a serem supridas: alimentação, roupas, moradia e remédios. Sob a ótica de Smith, que então analisava o nascimento da incipiente sociedade capitalista, essa tarefa poderia ser cumprida pelas relações de consumo. Logo, a “mão invisível” do livre mercado, ao possibilitar as satisfações das necessidades individuais, potencializava o alcance do bem-estar social.
Quase duzentos e quarenta anos depois do enunciado de Smith sobre a noção de bem-estar, o consumo tem sido levado às últimas consequências. Há pouco mais de 40 anos, desde a Conferência de Estocolmo 1972, o mundo começou a perceber que o padrão de crescimento econômico fundamentado no consumo crescente é insustentável. Embora a “lei da escassez” seja uma velha conhecida dos manuais de Economia, de repente a humanidade se apercebeu para o fato de que não há recursos naturais suficientes para atender a todos. Se cada um dos 7,0 bilhões de habitantes da Terra tivessem o mesmo padrão de consumo dos EUA, seriam necessários mais 4 ou 5 planetas Terra. Não obstante, esse é o modelo econômico dominante.

Esta é apenas uma situação, dentre outras tantas, que poderiam ser listadas para demonstrar que há uma contradição não prevista por Adam Smith entre o bem-estar individual e o bem-estar social. E que o modelo econômico centralizado no trinômio produção-consumo-descarte (PCD) é inviável no longo prazo.
Se as contradições entre crescimento econômico e sustentabilidade socioambiental são quase unanimidade, a própria noção de bem-estar fundamentado no consumo está hoje em xeque. É como se o modelo econômico se tornasse uma espécie de monstro que crescesse incontrolavelmente e agora passasse a viver uma espécie de autofagia.
Por exemplo, desde o início da humanidade, o maior problema alimentar era a fome.
Hoje, o consumo desenfreado de fast-foods, além de alimentos industrializados à base de açúcar levou a um crescimento da obesidade em níveis alarmantes. A antiga demanda por comodidade, desde que o Homem deixou de ser nômade, hoje se traduz em um sedentarismo exacerbado. Este, somado à obesidade, levará a uma explosão de casos de doenças evitáveis como diabetes, esteatose hepática, doenças cardiovasculares e depressão. Nesta última, o paradoxo se torna ainda mais flagrante: a plena saciedade gera insatisfação! No limite, teríamos uma sociedade tão plenamente saciada que estaria absolutamente insatisfeita.
Como reverter o quadro? Antes de tudo, não se trata da extinção do consumo. Mas é inevitável que os governos devam ter um papel pró-ativo, estabelecendo critérios para o consumo consciente e sustentável, enquanto traça e executa estratégias para minimizar os efeitos indesejáveis do trinômio PCD, principalmente na redução do descarte residencial e industrial. Mesmo que haja a sensação de um prejuízo individual, tal perda é para o bem-estar não somente da sociedade, mas para o próprio bem-estar pessoal.
As pessoas ainda continuarão consumindo automóveis, mas utilizarão cada vez mais o sistema de transportes coletivo – e ganharão duas vezes: os automóveis que compraram terão vida útil maior e passarão menos tempo paradas nos congestionamentos. Não comerão tantas gorduras e doces, mas isso será positivo, já que desfrutarão de uma vida mais saudável. Não trocarão aparelhos eletrônicos todos os anos, mas poderão fazer atualizações sem descartar aparelhos antigos. Não terão uma peça de roupa para cada dia do mês, mas terão roupas de melhor qualidade, de forma que a sensação de frustração seja menor, e, portanto, a satisfação seja maior.
Fabrício Pessato
Fonte: http://www.administradores.com.br/noticias/economia-e-financas/crescimento-economico-x-sustentabilidade-onde-fica-o-bem-estar/72724/ acesso em 15 de Janeiro de 2013.
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