segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Dez saberes marinheiros aplicados à gestão


Aproveitando a comemoração do Dia do Marinheiro nesse ensolarado 13 de dezembro, vou apresentar um artigo temático. Por conta da minha experiência profissional na Marinha do Brasil, onde exerci por mais de dez anos o ofício de Oficial do Corpo de Intendentes, pude recolher daquela centenária e tradicional instituição adágios, máximas ou expressões que representam saberes acumulados pelas experiências cotidianas no campo gerencial daquela comunidade, o que nos permite profundas reflexões e aprendizados.

Nessas breves linhas, procurarei trazer algumas dessas frases, que podem ter o seu aproveitamento na vida administrativa fora da caserna, dada as similaridades do móvel das ações humanas no campo da gestão. Eis as frases:

1) TROFÉU PASSÁBOLA: Essa expressão um chefe meu sempre invocava ao se referir aos outros setores que gostavam de passar a bola de suas atribuições estatuídas, recebendo deste meu chefe essa premiação fictícia. Na vida administrativa, é muito comum setores que praticam o hábito de se esquivar de deveres que são regimentalmente seus, ainda que sejam pródigos em abraçar tarefas, que às vezes não são suas, mas que trazem benefícios e louros.
2) LEI DOS RENDIMENTOS DECRESCENTES: Importada das aulas de economia, a gestão naval utiliza essa metáfora para se referir ao funcionário altamente capacitado, motivado e produtivo, que acaba sendo sobrecarregado com insumos crescentes e diversos, dada a sua competência, e com o tempo o seu rendimento começa a cair, ainda que os insumos aumentem. Reflexão interessante, pois os mesmos chefes que sobrecarregam os bons profissionais são os que os abandonam quando eles, fatigados, já não apresentam o mesmo resultado.
3) BOM NAVIO É AQUELE NO QUAL O MARINHEIRO VEM TRABALHAR ASSOVIANDO NO CAIS: Sempre fui para o trabalho cantando mentalmente. O servidor satisfeito com o ambiente se materializa na alegria no momento da chegada, pela manhã, no "Bom dia" esfuziante e na disposição das primeiras horas da manhã. Essa motivação se converte em comprometimento, produtividade e em um clima saudável para todos. Definitivamente, o bom lugar para se trabalhar é feito de pessoas que chegam assoviando. E isso, não tem preço.
4) A CABEÇA PENSA DE ACORDO COM O ASSENTO: Não existe a mais pura verdade. Quantos que bradam por mudanças na condição de subalternidade e quando se veem alçados as situações de gerência, mudam seu discurso, adaptando a sua cabeça ao novo assento. É importante não esquecermos nosso passado, para não repetirmos erros que eram objeto de nosso reclame.
5) QUANDO O ESFORÇO NÃO É MEU, O EMPENHO É MÁXIMO: Somos, como seres humanos, exímios em recomendar a excelência em tarefas conduzidas por terceiros, guardando para nós uma régua mais branda. Assim, quando envolve nosso esforço, somos condescendentes, mas somos implacáveis quando o fardo cabe ao próximo, esquecendo a indulgência, como um valor organizacional que nos convida a nos colocar no lugar do outro.
6) QUANDO PEGA, NÃO FICA UM: Todos aqueles que nas difíceis decisões que envolvem riscos endossam as soluções mais arrojadas, sem se comprometer, diante da materialização do erro, rapidamente se convertem em acusadores. Aí, vêm os chavões: "Não entendi bem que era isso...", "Fui mal assessorado". Quem detém o ônus da decisão é o responsável e deve saber que a divisão de responsabilidade deve se dar antes dos problemas eclodirem, pois depois, não fica um companheiro.
7) COMANDANTE FELIZ, NAVIO FELIZ: Se existe uma máxima verdadeira é essa. Quando o dirigente máximo está satisfeito com os rumos tomados, tudo flui naturalmente. Parece meio patrimonialista essa visão, mas no mundo real, seja no público ou no privado, a nossa condição humana nos empurra para atender a vontade do dirigente. A questão é quando essa vontade do dirigente se faz dissonante dos objetivos da organização, o que causa grandes espetáculos de ineficiência.
8) MAIS VALE UM AMIGO NO GABINETE DO QUE DEZ DIAS DE CAPACETE: Taí mais uma máxima de raízes patrimonialistas, mas que se revela cotidiana no país do "homem cordial", discutido por Sérgio Buarque de Holanda. As relações pessoais, a indicação, tudo isso pesa muito na vida administrativa. A despeito de diplomas e currículos, ter trabalhado com uma pessoa e nela ter deixado boa impressão é um fator de avaliação fundamental, dado que o testemunho é uma grande garantia de dotes profissionais. Indicação também é um critério...
9) ORDEM ERRADA NÃO SE CUMPRE: Esse adágio se confronta com o valor máximo da hierarquia, no famoso "cumpre e depois pondera". Bem, obedecer cegamente é colocar nos ombros da autoridade toda a responsabilidade e nos isentar de um dever implícito de quem é subordinado, que é avisar, do seu ponto de vista, riscos e dificuldades, na famosa assessoria.
10) TÁ TUDO SAFO, CHEFE: Por fim, o aprendizado de que não podemos entulhar o chefe de problemas e sim de soluções. Para cima, temos que passar a tranquilidade do domínio da situação, para que o alarmismo não assombre a gestão. Obviamente, não nos referimos aqui a varrer a sujeira para baixo do tapete, já que ela volta depois, mas sim evitar a prática de por coisas poucas "estressar" os sistema.
A vida militar, em especial a marinheira, tem peculiaridades do sistema burocrático, do confinamento do navio, da síntese da vida e saberes desses homens do mar, que produz reflexões interessantes, que tem muito a ensinar a gestão pública e privada. Precisamos romper essa visão que o púbico só aprende com o privado, pois em todo local no qual pessoas trabalham, se produz conhecimento gerencial, útil e aproveitável.
Marcus Braga
Fonte: http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/dez-saberes-marinheiros-aplicados-a-gestao/67851/ acesso em 17 de dezembro de 2012.

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