quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Você usa máscara corporativa?


Recentemente, você:
( ) recebeu um e-mail, não respondeu, e quando questionado por quem o enviou, mentiu e disse que não tinha chegado?
( ) viu que uma ligação estava entrando em seu ramal no escritório ou no seu celular e, por conta do identificador de chamadas, não atendeu e sequer retornou?
( ) recebeu uma proposta de projeto por meio físico ou digital e nem se deu ao trabalho de analisar com o mínimo de atenção e responder?
( ) passou os olhos por um relatório cujo tema seria o cerne de uma discussão estratégica, e foi para uma reunião sem o preparo adequado?
( ) disse que tinha lido o livro de um tal guru de admnistração quando, na verdade, mal lembrava da capa que tinha visto de relance na livraria do aeroporto?
( ) deixou de dizer que tinha achado muito ruim o resultado de um trabalho feito por um colega ou equipe, chegando até a dar parabéns de forma rasa?
( ) criou uma desculpa para sair mais cedo de uma reunião, do escritório ou encerrar um encontro que se estendeu por mais do que o esperado?

Se marcou uma ou mais alternativas acima, você é um integrante da chamada atuação corporativa, também chamada de teatro corporativo, ou, de forma mais ácida, hipocrisia corporativa.
Todo profissional lança mão de certas táticas para equilibrar melhor seu dia e agenda. Tenho que usar desculpas para orquestrar melhor minha rotina. Existem, também, questões ligadas à interação social. Não é sempre que posso dizer exatamente o que penso a respeito de um projeto ou proposta. Por fim, existe o famoso check-list, que separa (ou tenta) nossas urgências e entregáveis “para ontem” do que é importante ou necessário no trabalho. Como nem sempre controlo o que tenho que fazer antes, volta e meia deixo de lado (e depois esqueço) respostas e posições que estou devendo para terceiros.
Mas qual o limite correto para estas condutas?
Devemos dizer sempre a verdade nua e crua, como um rinoceronte numa loja de cristais e salve-se quem estiver na frente, ou é preciso tentar manter a boa imagem e, com isso, falhar no follow-up, no feedback, no respeito com os outros e no aprofundamento da produtividade efetiva nas questões do trabalho?
Meu trabalho atual como consultor, e os mais de 20 anos de vida executiva, me permite ver o quão difícil é encontrar o caminho do meio nesta seara. De um lado, profissionais absolutamente assertivos, que passam do ponto com seu jeito desrespeitoso (desumano até) nas relações do trabalho. De outro, executivos agindo com agenda dupla, onde a falta de retorno ou de sinceridade é, de fato, uma grande falta de respeito. No meio, as áreas de gestão de pessoas e as lideranças das organizações.
Some-se a isso tudo o ambiente organizacional das empresas, resultado dos comportamentos e politicas (muitas vezes não oficiais) existentes. Afinal, a cultura de uma empresa incentiva ou inibe certos comportamentos, o que pode motivar o comportamento dos seu profissionais para um lado ou para outro, por conta de progressão de carreira e maiores chances de sucesso.
E não podemos esquecer do exemplo dos líderes, das posturas adotadas pelos comandantes das organizações, que geram comportamentos similares e impactam fortemente o resultados dos grupos de trabalho e das empresas como um todo.
Pessoalmente, acho que temos que buscar o equilíbrio. Temos que mesclar produtividade com respeito, retorno a ligações e e-mails com objetividade e profissionalismo, feedbacks honestos com intenções de crescimento, administração de tempo com manutenção diária de check-lists, comunicação clara com escuta ativa e presença real, profissionalismo e entrega com relações humanas equilibradas.
Não é fácil. Mas a fagulha inicial deve ser a da intenção correta, do estímulo a comportamentos construtivos e verdadeiros. Ambientes de profissionalismo e verdade. Onde exemplos positivos são criados e seguidos, em prol do trabalho, das entregas, do crescimento individual e coletivo.
Com mais equilíbrio e respeito; com menos máscaras e faz de conta.
“Pra falar verdade, às vezes minto
Tentando ser metade do inteiro que eu sinto
Pra dizer às vezes que às vezes não digo
Sou capaz de fazer da minha briga meu abrigo (…)”

O Teatro Mágico
André Caldeira

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