terça-feira, 11 de setembro de 2012

Segunda-feira eu começo!


Segunda-feira: dia de começar dieta, de virar o jogo no combate à preguiça e aparecer na academia, de tentar organizar a semana, de atacar com todas as forças aquele projeto que estamos procrastinando há um tempo, de tentar parar de fumar, de banir os doces das refeições, das resoluções de novos hábitos, de colocar em prática os primeiros passos daquele novo “eu”, seja pessoal ou profissional, que queremos construir.
Mas sabe quantos % de nossas promessas são realmente cumpridas?
Míseros 12%, segundo uma pesquisa da Universidade de Hertfordshire, na Inglaterra, feita em 2007.
12% !!!
De novo: doze por cento…

Isso quer dizer que 88% de tudo o que nos colocamos como meta vai pelo ralo, some pelos ares, evapora. Na verdade, não tudo, pois muito do que nos propomos a fazer e não conseguimos cumprir fica conosco sob a forma de peso na consciência. Ou seja, não muda em nada os 88% de frustração, mas soma e muito na balança da consciência.
A literatura fala que isso tem a ver com dois tipos de personalidade que todos temos: a planejadora e a imediatista. A imediatista é a que herdamos dos nossos ancestrais, dos homens das cavernas, que agiam conforme a necessidade: fome = caça; frio = uso de pele de animais; sexo = arrastar alguém pelos cabelos… Já a planejadora envolve a razão, a análise dos prós e contras, dos benefícios de médio e longo prazo, a tenacidade e visão ampliada. Se eu parar de comer doce por seis meses, vou ter um belo resultado na cintura e no espelho. Se eu fizer aquela pós-graduação, isso vai contar pontos para minha próxima oportunidade de promoção. Se eu parar de navegar tantos nas redes sociais, vou ter mais tempo para estudar, ler aqueles livros que há tempos estão em cima da minha mesa. E assim por diante.
Mas a verdade é que manter a tal personalidade planejadora ativa e presente é difícil, muito difícil. Tenho muitas coisas ao mesmo tempo no trabalho? Paro para um cafezinho no corredor (ou vários). O teor do relatório que estou analisando é muito chato? Vou bater um papo com meu colega da mesa ao lado. Tenho muitos slides para finalizar da apresentação de amanhã? Deixa eu dar uma olhada no meu Facebook. Cheguei em casa cansado e ainda preciso trabalhar até tarde? Preciso pelo menos jantar muito bem ou tomar uma dose para relaxar.
E assim colocamos nossa personalidade planejadora em stand-by, dando um freeze na pressão e buscando um pouco de compensação, de prazer momentâneo. Ganha o round a personalidade imediatista, dominadora, espaçosa, viciante.
Com os excessos do trabalho hoje em dia, podemos pegar carona nos atalhos do imediatismo para o que quisermos: muita comida, redes sociais, pornografia, bebida alcoólica, drogas, remédios, etc. A pressão diária, externa e interna, cria um verdadeiro manual de desculpas, de auto tapinhas nas costas, de fugas devidamente reconfortadas internamente.

- Pelo menos comer bem eu mereço.
- Estou com muita coisa. A academia que fique para outro dia.
- Além de tudo ainda tenho que fazer dieta? Nem pensar!
- O chocolate me acalma nos momentos de pressão.
- Meu chefe me deixa maluco. Se eu não tomar uma dose todo dia, entro em parafuso.
- Tenho que dar risada com meus amigos no Facebook, pois a vida não pode ser só trabalho.
E assim seguimos. A questão é como administramos as tais doses de autocomiseração e cuidado. Preciso mesmo de todas essas pausas ao longo do dia? As visitas ao Facebook durante o expediente me ajudam a espairecer ou prejudicam minha produtividade e ritmo? Tenho tanto trabalho assim ou me organizo mal e tenho que ficar direto até mais tarde no escritório? É melhor mesmo deixar para mais tarde a análise daquele relatório dificílimo e me concentrar em outras coisas de menor importância? Quantas vezes não criamos armadilhas para nossas próprias metas, ora sendo o militar que cria a exigência, ora o colo de mãe que só pensa no afago e no repouso projetado?
Acabei de ler um livro muito interessante: Flow, de Mihail Csikszentmihalyi. Ele fala sobre a natureza do ser humano e a importância das metas para sermos felizes, para encontrarmos contentamento em tudo o que fazemos. Para ele, as metas devem ser: (a) viáveis; (b) mensuráveis; (c) objeto de foco e concentração; (d) sustentadas por habilidades e, por fim, (e) reavaliadas para apresentarem desafios crescentes.
Em certo aspecto, lembra o acrônimo SMART que já lemos em muitos textos (que diz que as metas devem ser Specific, Measurable, Actionable, Reachable, Timed ou específicas, mensuráveis, factíveis, atingíveis e medidas em tempo). A diferença é que Csikszentmihalyi diz que temos que buscar essas características para tudo o que fazemos, incluindo o lazer, sob o risco de ficarmos entediados, perdermos o foco (quem nunca sentiu certo tédio ao ficar em frente à TV no final de semana, mesmo depois de ter sonhado com aquele momento durante a semana? )e não atingirmos nossas metas.

Todos nós temos sonhos, promessas, ideias, aspirações profissionais. Inspirados pelo rigor e disciplina do trabalho, temos que perseguir nossos objetivos e promessas individuais, trazendo mais à tona nossas personalidades planejadoras também para a vida pessoal.
Olhe à sua volta, pare um pouco e pense. Reflita, estabeleça suas prioridades e suas metas. Monte seu plano de ação.
E preste atenção: seu maior inimigo pode estar no espelho.
André Caldeira

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