sexta-feira, 8 de junho de 2012

Inteligência emocional ou emoções inteligentes?


Temos – ou tivemos – um cliente da área financeira, uma das empresas top do mercado. Me impressionava bastante um determinado superintendente. Sujeito firme, ideias claras, raciocínio rápido e lógico. Para se referir à sua equipe gostava de usar alguns termos como “esse povo”; “hora do agradinho”, para dar um feedback positivo; “hora da pancada”, para falar de metas. Me dava náuseas ouvi-lo e depois ver seu discurso “motivador”. Percebi que outros de sua equipe sentiam o mesmo que eu, mas por conveniência e hierarquia, sorriam falsamente concordando. Lembrei-me da frase de ouro da liderança: toda equipe é a cara de seu líder... E assim se construía a relação toda baseada na falsidade. Falsidade essa originada pelo próprio “super”.

Quanto ao resultado, de fato alguns seguiam sua empolgação, por algum tempo. Mas o ambiente era deteriorado e também seus liderados começavam a ter “duas caras” com ele. Minha posição de consultor e observador era privilegiada. Chegada a hora, sentamos com o tal chefe. Hora do nosso feedback.

Questionei a lógica dele, ao que me respondeu que “gente é como parafuso - tem de saber apertar, mas não aperta demais senão espana”. Que aquilo era inteligência emocional aplicada, pois quem aguentava ficava; quem não, espirrava. Conheço generais e coronéis bem mais humanos que esse pseudolíder. Ele falava que dava resultado. O resultado era um recorde de dispensas psiquiátricas!
Inteligência emocional aplicada... Ou seja, a razão, o racional gerando a forma das emoções. Racionalizar tudo, colocar as emoções numa caixa. Acompanhando aquele poderoso chefe, comecei a entender a diferença entre chefe e líder.

Conversamos sobre a possibilidade de trocar o “apertar parafusos” por “cultivar relações”. Sobre a utopia de ser sincero com a equipe (utopia para ele!). Sobre relações baseadas em confiança. Ele me olhava com espanto, quase medo. Fechamos um pacto e durante algumas semanas pude ver o chefe virar líder. Falava com mais sinceridade; ouvia mais verdades. As emoções nas relações entre eles ficaram mais fortes. O melhor: isso começou dele.

Meses depois desse nosso feedback, foi anunciada interna e extraoficialmente a fusão da empresa com outra líder de mercado. De repente, aquele ambiente perdeu o estresse negativo de pressão e também o estresse positivo da produtividade. Todos em compasso de espera. Sobrou tempo. Sabe o que fizeram com esse tempo que sobrou? Relacionaram-se ainda mais, só que, agora, com base no novo modo, proposto pelo líder! Exagero dizer que ficaram amigos, mas companheiros e camaradas, com certeza. Na fusão, o departamento foi majoritariamente mantido, novos integrantes foram incorporados, com um foco maior em aceitá-los – o que era inimaginável meses antes. Relacionamento bom com produtividade em alta.

Tiro algumas dicas dessa fantástica experiência de transformação de chefe em líder.

1. O aspecto emocional é fundamental. Administrar, criar as emoções da sua equipe. Desconfiança, cumplicidade, maldizer, sinceridade. Pode escolher. Mas cuidado: a equipe sempre vai seguir você, imitar, por bem ou por mal. Como nos tratamos é a base sobre a qual trocamos ideias.

2. Quer saber que tipo de líder você de fato é? Qualifique, dê adjetivos à sua equipe. O que você disser sobre sua equipe, pode dizer sobre você mesmo. Frase de ouro da liderança: A equipe é sempre a cara de seu líder.

3. Por meio de suas atitudes e palavras sempre vai se revelar sua essência. “A boca fala do que o coração está cheio”, disse o profeta. Portanto, cuide do coração, se é que você me entende...


Alex Sorino 



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