Indústria
mantém desempenho com redução de custos
O setor industrial conseguiu melhorar, com corte de
custos e despesas, o desempenho operacional no primeiro trimestre, apesar do
desaquecimento da economia e a desvalorização cambial.
Um levantamento feito pelo Valor Data mostrou que as 92
empresas do setor industrial tiveram receita líquida de R$ 124,27 bilhões nos
primeiros três meses do ano, alta de 8,7% na comparação anual. Ao mesmo tempo,
o lucro operacional avançou 9,6%, para R$ 14,39 bilhões, indicando que houve um
controle mais forte dos custos e das despesas.
Essas medidas ajudaram a minimizar os problemas causados
pela demanda menor, que prejudicou o faturamento da indústria de transformação,
assim como as despesas financeiras, que foram significativamente maiores,
devido à desvalorização cambial. Mesmo assim, os dois fatores corroeram a
última linha do balanço dessas companhias.
O lucro líquido das empresas da indústria de
transformação somou R$ 2,90 bilhões no trimestre, queda de 56% na comparação
anual. O resultado financeiro negativo quase triplicou, para R$ 11,66 bilhões,
e foi um dos responsáveis pela deterioração do lucro. O efeito da variação
cambial na despesa financeira cresceu mais de 8 vezes, para uma perda de R$
18,16 bilhões.
Com os esforços implementados, as empresas industriais conseguiram
evitar uma queda mais drástica da rentabilidade (lucro líquido comparado ao
patrimônio), que caiu de 9,4% para 8,5% no período. Numa amostra geral com 253 empresas
de capital aberto não financeiras, a rentabilidade despenca de 6,8% para 0,9%.
No mesmo período, a rentabilidade sobre o patrimônio
líquido dos bancos, que sofrem com a desaceleração da economia com crédito, mas
compensam em ganhos com tesouraria, subiu de 16,4% nos três meses iniciais do
ano passado para 16,7% neste ano maior taxa em um período de três anos.
Nesse intervalo, a rentabilidade patrimonial da indústria
de transformação saiu de 7,6% para 8,5%, tendo atingido seu maior patamar no segundo
trimestre de 2014, de 10,6%.
No grupo da indústria de transformação foram excluídos os
resultados de Vale e Petrobras, em razão das suas atividades diversificadas na
mineração e na logística e distribuição dos seus produtos.
Dentro da indústria, as companhias que tiveram os melhores
desempenhos foram as que conseguiram cortar custos e despesas, além daquelas
que aumentaram a participação fora do Brasil.
A margem operacional (medida pela relação entre receita
de vendas e lucro antes de impostos e tributos) dessas empresas subiu 0,1 ponto
percentual no período, chegando a 11,6%.
A fabricante da máquinas e equipamentos WEG é um exemplo
de companhia que permaneceu resiliente mesmo com o cenário de crise, porque a
maior parte do faturamento da companhia vem do mercado externo. No primeiro trimestre
o lucro líquido ficou 20% maior e a receita líquida cresceu 19,4%.
Segundo o Itaú BBA, a companhia conseguiu encontrar
espaço no mercado externo para ganhos de participação e para buscar portfólio
ainda maior de produtos, dadas as recentes aquisições na África do Sul e
Colômbia e as melhoras de margens vindas da integração de operações,
especialmente na China e no México.
Outro destaque foi a metalúrgica Tupy, que dobrou seu
lucro no trimestre. A empresa compensou a menor
demanda no mercado doméstico com crescimento de receita
no exterior, onde concentra 77% de suas vendas, sem contar a redução nos custos
com matérias-primas e ganhos com operações financeiras.
Mario Bernardes Junior, analista de indústria do BB
Investimentos, destaca a Metal Leve por ter mostrado piora no volume nos meses
de janeiro, fevereiro e março, ao mesmo tempo em que conseguiu elevar a margem
operacional.
"Em períodos de ciclos econômicos mais desaquecidos,
naturalmente há queda de demanda e de receita. Ficou claro para os investidores
que, por mais que o cenário esteja desafiador, as empresas estão fazendo a
parte delas", comentou o analista.
Segundo Bernandes Junior, "as empresas se prepararam
para um cenário mais adverso, com ajustes de custos e despesas feitos ao longo
do ano passado. O trimestre deixou claro que as companhias estão
eficientes".
Nem todas as empresas conseguiram
escapar do aperto. Randon e Romi tiveram resultados ruins no trimestre Mas nem todas conseguiram escapar do
aperto. A Randon, de implementos rodoviários, e a Romi, de máquinas, apresentaram
os piores números do segmento. A primeira teve queda de 99% no lucro no
trimestre, com redução das receitas no Brasil e nas exportações, baixa escala
de produção.
Após a publicação do balanço da Romi, o seu presidente,
Luiz Cassiano Rosolen, classificou 2015 como um ano de demanda deprimida.
Segundo ele, existe uma estrutura de custos fixos que não pode ser alterada,
sob o risco de inviabilizar a capacidade da companhia de responder rapidamente
ao mercado com uma reação quando a
economia retomar.
Mesmo com os problemas, o desempenho da indústria
conseguiu ser melhor no trimestre em comparação com o resultado do grupo
formado por todas as 253 empresas de capital aberto.
Juntas, elas somaram um lucro líquido de R$ 7,29 bilhões,
76% menor que o apurado nos primeiros três meses de 2014, enquanto a receita
líquida cresceu 4,3%, para R$ 391,12 bilhões.
O resultado financeiro veio negativo em R$ 41,50 bilhões,
com despesas financeiras de R$ 81,82 bilhões. O peso da variação cambial nas
despesas financeiras foi negativo em R$ 45,91 bilhões, 9 vezes maior que os R$
4,98 bilhões apurados no mesmo intervalo do ano passado.
Ao mesmo tempo, os indicadores operacionais mostraram
desempenho pior em relação à amostra que só
considera a indústria de transformação.
Houve queda de 0,4 ponto percentual na margem
operacional, antes do resultado financeiro e dos tributos.
Esse resultado foi fortemente influenciado pela Vale, que
registrou um prejuízo de R$ 9,5 bilhões, refletindo a desvalorização cambial e
a queda dos preços do minério de ferro dois fatores determinantes para a perda bilionária
da mineradora.
Nos três primeiros meses do ano, o real caiu 21% ante o
dólar e, na média trimestral, a depreciação foi de 13%.
Houve impacto principalmente na diferença da dívida
denominada em dólar e os ativos sob a mesma condição, que levou a uma perda de
US$ 3,02 bilhões no primeiro trimestre. Outros US$ 1,26 bilhão em perdas não recorrentes
vieram da marcação a mercado do valor e liquidação de swaps cambiais de real e
outras moedas para o dólar americano.
Fonte: Valor Econômico – Camila Maia - 21/05/15
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