Geração Y mostra-se menos
confiante quanto ao futuro
Rotatividade da mão-de-obra, que
é mais elevada entre jovens, já mostra sinais de queda em decorrência da piora
no mercado de trabalho
A geração Y, formada pelos jovens nascidos entre o final da década de 70
e da década de 90, deve enfrentar pela primeira vez uma piora significativa nas
condições do emprego desde que entraram no mercado de trabalho, no início dos
anos 2000. Em sua primeira crise econômica, ela mostra-se relativamente menos
confiante quanto ao futuro do que a geração X, formada pelos indivíduos
nascidos nas décadas de 60 e 70, e que entraram no mercado de trabalho entre os
anos 80 e 90, período no qual a economia brasileira passou por sucessivas
crises econômicas. É o que mostra estudo inédito elaborado pela Federação do
Comércio de Bens, Serviços e Turismo (FecomercioSP) a partir dos dados do
Índice de Confiança do Consumidor (ICC), divulgado mensalmente pela
FecomercioSP desde junho de 1994, do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
(CAGED) do Ministério do Trabalho e da Pesquisa Mensal do Emprego (PME) do
IBGE.
Embora
não haja um consenso a respeito da classificação das gerações, pode-se dizer
que fazem parte da geração Y - ou geração net - os jovens nascidos entre o
final da década de 70 e da década de 90, que cresceram imersos no ambiente
digital, em um período de enorme prosperidade econômica. Os jovens dessa
geração, normalmente caracterizados pela ansiedade excessiva, têm movido
intenso debate entre especialistas da área de recursos humanos. Hoje no mercado
de trabalho, já ocupando inclusive cargos de liderança e muitas vezes
criticados pela falta de paciência, por mudarem frequentemente de emprego, eles
estão enfrentando a sua primeira crise econômica.
Segundo o IBGE, a taxa de desemprego no país caiu de 10,9% em dezembro de 2003 para 4,3% em dezembro de 2014. No início de 2009, por causa do impacto da crise internacional na economia brasileira, o desemprego chegou a dar sinais de aceleração, mas as ações do governo naquele momento foram capazes de reverter o quadro e, já na metade do ano, o indicador retomava a tendência de queda.
Segundo o IBGE, a taxa de desemprego no país caiu de 10,9% em dezembro de 2003 para 4,3% em dezembro de 2014. No início de 2009, por causa do impacto da crise internacional na economia brasileira, o desemprego chegou a dar sinais de aceleração, mas as ações do governo naquele momento foram capazes de reverter o quadro e, já na metade do ano, o indicador retomava a tendência de queda.
A
política de pleno emprego, que manteve o índice nos patamares mais baixos da
série histórica até o final do ano passado, acabou gerando desequilíbrios
macroeconômicos significativos. A economia brasileira precisará passar agora
por ajustes recessivos que terão impactos negativos na atividade econômica por
um ou até dois anos e devem, consequentemente, afetar o mercado de trabalho e
elevar a taxa de desocupação. Entre abril do ano passado e abril deste ano, a
taxa de desemprego já subiu de 4,9% para 6,4%. A maior alta da taxa foi
observada exatamente entre jovens-de 18 a 24 anos.
O ICC permite que sejam levantadas hipóteses a respeito da forma como a geração Y está encarando o atual cenário de crise, e se seu comportamento é diferente, por exemplo, do observado para os jovens da geração X em crises passadas. O índice mede o "humor" dos consumidores mediante sua percepção relativa às suas condições financeiras atuais e futuras. Ele é composto por dois subíndices, o Índice das Condições Econômicas Atuais (ICEA) e o Índice de Expectativas do Consumidor (IEC).
O ICC permite que sejam levantadas hipóteses a respeito da forma como a geração Y está encarando o atual cenário de crise, e se seu comportamento é diferente, por exemplo, do observado para os jovens da geração X em crises passadas. O índice mede o "humor" dos consumidores mediante sua percepção relativa às suas condições financeiras atuais e futuras. Ele é composto por dois subíndices, o Índice das Condições Econômicas Atuais (ICEA) e o Índice de Expectativas do Consumidor (IEC).
A
partir de maio de 1999, a FecomercioSP passou a divulgar o ICC, o ICEA e o IEC
segmentados por idade - consumidores com até 35 anos e consumidores com mais de
35 anos. Consumidores nascidos na década de 60 e até meados da década de 70 -
da geração X, portanto -, de maneira geral, tinham até 35 anos no final dos
anos 90 e início dos anos 2000. Os consumidores que, hoje, têm até 35 anos, por
sua vez, fazem parte da geração Y. O fato de o período entre 1999 e 2001 ter
sido marcado por seguidas crises - desvalorização cambial, crise energética,
crise da Argentina, ataques terroristas no EUA - permite, assim, uma comparação
entre a percepção dos jovens das duas gerações diante de um quadro de crise
econômica.
A
tabela acima traz uma comparação do ICEA e do IEC de consumidores até 35 anos e
com mais de 35 anos em dois momentos distintos. Chama a atenção o descolamento
entre a avaliação da situação atual e a percepção das condições futuras dos
jovens da geração X no final dos anos 90 e início dos anos 2000, o que não é
observado atualmente para a geração Y. Ou seja, embora a situação econômica
afetasse negativamente a avaliação da geração X em relação àquele momento, ela
era relativamente otimista quanto ao futuro.
No
caso da geração Y, o ICEA e o IEC encontram-se bastante próximos, sugerindo que
a percepção das condições atuais é bem semelhante à expectativa para o futuro.
Isso pode ser reflexo exatamente da ansiedade característica dessa geração, que
teria dificuldade de diferenciar presente e futuro. Outra possível explicação
está ligada ao desenvolvimento econômico brasileiro dos últimos 20 anos:
enquanto, para a geração anterior, era de se esperar uma condição futura muito
melhor do que a de seus pais, o mesmo não é verdade para boa parte da geração
Y.
A convergência entre o ICEA e o IEC também é observada quando são considerados os consumidores com mais de 35 anos de idade. E, historicamente, estes consumidores são menos confiantes em relação às suas condições financeiras do que os mais jovens. Ainda assim, entre janeiro de 2013 - quando os indicadores iniciaram sua trajetória de queda - e abril deste ano, o ICEA superou o IEC em 0,3 ponto percentual no caso dos consumidores com até 35 anos.
A convergência entre o ICEA e o IEC também é observada quando são considerados os consumidores com mais de 35 anos de idade. E, historicamente, estes consumidores são menos confiantes em relação às suas condições financeiras do que os mais jovens. Ainda assim, entre janeiro de 2013 - quando os indicadores iniciaram sua trajetória de queda - e abril deste ano, o ICEA superou o IEC em 0,3 ponto percentual no caso dos consumidores com até 35 anos.
No
caso dos consumidores com mais de 35 anos, a média do IEC foi mais de 4 pontos
percentuais superior à média do ICEA. Quando são feitas as mesmas comparações
para o período entre 1999 e 2001, essa inversão não é observada. Em outras
palavras, a expectativa dos consumidores da geração Y é relativamente menor. É
interessante notar que, durante as últimas eleições, O ICEA e o IEC dos
consumidores de até 35 anos mantiveram-se muito próximos, enquanto houve um
descolamento - maior crescimento relativo do IEC - no caso dos consumidores com
mais de 35 anos.
A
análise, portanto, vai ao encontro da percepção de que a ansiedade seria um dos
traços característicos da geração Y, o que se reflete em uma maior rotatividade
da mão-de-obra entre os jovens: segundo dados do Ministério do Trabalho, em
2011, por exemplo, a rotatividade da mão-de-obra de jovens entre 18 e 29 anos
era de 55%, ante 44% quando é considerada toda a população empregada
formalmente. Uma maior rotatividade, em um cenário de queda do desemprego -
como o observado até então -, pode significar que, em busca de melhores
oportunidades e rápido crescimento profissional, os jovens vinham mudando com
maior frequência de emprego.
O cenário, entretanto, mudou. Após uma redução no ritmo de criação de
vagas ao longo de 2014, em 2015 a taxa de desemprego voltou a subir. O menor
ritmo de criação de vagas foi acompanhado por uma queda na rotatividade da
mão-de-obra entre os trabalhadores mais jovens. Mais do que uma mudança de
comportamento desse extrato da população, essa redução parece mesmo reflexo de
uma diminuição das oportunidades observadas no mercado de trabalho.
Diante do novo cenário, a geração Y, em sua primeira crise econômica, precisará aprender a lidar com a ansiedade que lhe é tão característica.
Diante do novo cenário, a geração Y, em sua primeira crise econômica, precisará aprender a lidar com a ansiedade que lhe é tão característica.
Fonte: Administradores –
22/05/15
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