Pode-se dizer que Victor Macedo de Moura conquistou, aos 19 anos, o que muitos não conseguem em uma vida inteira. No primeiro ano do curso de sistemas de informação na Faculdade de Informática e Administração Paulista (Fiap), está há menos de oito meses em seu terceiro emprego e já foi promovido a líder da área em que trabalha. Outra aparente excepcionalidade? "Tenho a meta de virar sócio em dois anos no máximo. Estou me preparando e confio no meu potencial", afirma Moura com certa convicção.
O que poderia parecer improvável e arriscado há pouco tempo no mundo corporativo começa a fazer coro entre as pequenas e médias empresas: a chamada geração Z quer dividir a fama de jovens promissores, criativos e ambiciosos com a Y, que reinava absoluta até então.
A exemplo do que foi a força da geração Y - de 20 a 29 anos, segundo classificação do Ibope - em passado recente, surge uma nova onda de profissionais ainda mais jovens a ocupar cargos de liderança. A geração Z, com até 19 anos, mal entrou na universidade e já lidera equipes em empreendimentos que crescem rapidamente em seus nichos de atuação. É o caso da Betalabs, empresa que desenvolve sistemas de gestão empresarial e plataforma de e-commerce, que nasceu em 2011, faturou R$ 2 milhões no ano passado e já prevê dobrar sua receita em 2014, para R$ 4 milhões.
Não há dúvidas de que é preciso muita ousadia e desprendimento para delegar responsabilidades a quem não tem histórico profissional consolidado e maturidade para tomar decisões. Mas isso só costuma ser feito com monitoramento direto de gestão dos superiores e em empresas cuja natureza é de jovens cabeças inovadoras.
A Betalabs, por exemplo, surgiu do sonho de dois alunos de administração da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Hoje já possui 120 clientes e 25 funcionários, sendo quatro sócios. A faixa etária dos colaboradores vai de 18 a 29 anos. Ou seja, só abriga duas gerações dentro de casa (Z e Y) "Para que o modelo dê certo tem que ter uma política de recursos humanos diferenciada e motivadora. Aqui todos, até os estagiários, têm chances de ganhar bônus. De dois a três salários extras por ano, dependendo do desempenho. Isso não existe em empresa pequena", afirma Felipe Cataldi, 24 anos, um dos sócios fundadores.
Para ele, apesar dos riscos e algumas limitações de relacionamento que a geração Z apresenta, as qualidades compensam. "Aprendem rápido, nasceram na internet e se renovam o tempo todo. Mas precisam ver chances de crescer rapidamente e assumir novos desafios para se comprometerem com o trabalho. Quero investir na formação da geração Z, pois é o que fará minha empresa crescer", defende o jovem empreendedor.
Ele conta que se inspira nas histórias contadas no livro 'Sonho Grande', que fala da ascensão do império criado pelos empresários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira.
A proximidade entre as duas gerações de Cataldi (Y) e de Moura (Z) facilita o entendimento entre elas. São cabeças que receberam formações parecidas. A diferença é que a Y está mais madura e já sabe lidar com as adversidades da administração corporativa. "Por essa razão, dificilmente a Y entra em conflito com a Z, porque têm a mesma rapidez de pensamento e de realização de atividades. Quando o líder é o Y ele consegue entender os processos pelos quais o Z está passando e ajudá-lo", analisa Júlio Amorim, diretor-presidente da Great Group, consultoria de gestão empresarial.
Esse tipo de experiência cabe bem em empresas de tecnologia como a Just Digital, que desenvolve software de gestão de informação e foi uma das pioneiras na integração Google Enterprise no país. Com uma estrutura mais horizontal de hierarquias, costuma criar uma espécie de rodízio de líderes nos projetos que realiza. Cada um tem um líder que é escolhido pelos membros do próprio grupo que o desenvolve.
Foi assim que Daniel Silva Santos, de 19 anos, foi eleito líder de desenvolvimento de funcionalidades de um software e é o responsável pela cobrança, coordenação e entrega que os outros têm que fazer para que o produto saia no prazo. Apesar de jovem, ele foi visto como o mais apto a desempenhar este papel. "Nem sempre o líder é quem tem mais conhecimento. O desafio em tecnologia, às vezes, é ser ágil e encurtar caminhos", afirma Santos. Ele cursa ciência da computação no Senai.
Dos 40 funcionários da Just, somente dois são da geração X (de 30 a 45 anos), seis da Z e o restante da Y. Para Rafael Cichini, sócio fundador, o grande desafio para uma empresa que trabalha com gente mais jovem é desenvolver a sua capacidade de se comunicar. Para isso, toda sexta feira promove palestras internas com debates e comunicação entre as gerações. "Se por um lado as gerações Z e Y são inteligentes, antenadas e trazem novidades, por outro, são mais técnicos e preferem se comunicar com o computador", observa.
Para melhorar aspectos falhos na liderança dos mais jovens, o empreendedor orienta de perto, dá aconselhamento e aponta erros e acertos. "Eles são muito ansiosos e não valorizam pontos importantes no processo de desenvolvimento. Mostramos que uma geração pode ajudar a outra", diz Cichini.
Foi nesse ambiente de possibilidades para jovens talentosos e cheios de sonhos que Júlia Rielo já começou a se planejar. A estudante de marketing da Universidade de São Paulo (USP) tem 19 anos, acabou de ser contratada em seu primeiro emprego, e já se acha capaz de um monte de coisas. Foi convidada a ajudar na criação de uma nova área (business intelligence) na Conversion, empresa de SEO (search engine optimization). A depender dos planos de um dos sócios, Diego Ivo, as condições para que Julia conquiste um lugar de destaque estão sendo criadas.
Essa é uma área de interesse da empresa e a ideia é ter cinco profissionais dedicados a ela. "Eu acredito nos jovens. Tanto que quero contratar 10 universitários de diferentes áreas, treiná-los e prepará-los para crescer rapidamente. Se eles têm talento e garra, em seis meses já poderão assumir situações mais complexas e liderar projetos ou grupos."
Fonte: VALOR, acessado em 05 de Maio de 2014.
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