Há uma impressão generalizada no mercado de tecnologia que a Microsoft está enfrentando uma crise terrível. A incapacidade de se posicionar no setor mobile seria a bala de prata que derrubaria o que já foi a maior empresa de tecnologia do mundo por anos. Sem tablets e smartphones de sucesso, a Microsoft dependeria da venda de Windows e Office, em queda junto à venda de PCs e laptops.
A dúvida que paira sobre o assunto é quando uma queda muito acentuada aconteceria. Quando as vendas do Windows e do Office encolheriam o suficiente para impactar negativamente a balanço financeiro e fazer a empresa encolher? Nos últimos trimestres, porém, a Microsoft tem dado provas que a questão não é “quando”, mas “se”.
Na sexta, a companhia anunciou que teve receita (US$ 24,5 bilhões) e lucro (US$ 6,56 bilhões)recordes no segundo trimestre fiscal de 2014. Ou seja: a Microsoft lucra como nunca. Em dezembro, o valor da ação atingiu US$ 38,9, seu pico em 13 anos. Cadê a crise? Uma analisada mais atenta ao relatório financeiro dá algumas dicas do que passa com a Microsoft.
Sob a nova divisão de categorias introduzida no ano passado, a Microsoft reporta resultados de duas grandes categorias: Devices and Consumer (onde estão Xbox, Surface, Bing e Windows e Office para o consumidor final) e Commercial (Windows Server, Azure, Dynamics, Office 365 e Windows e Office para grandes empresas).
A Devices and Consumer reúne os produtos mais conhecidos da Microsoft, com Windows e Office como líderes. A receita de licenças do sistema Windows caiu 3%. Dado que a queda geral no mercado de PCs foi maior (IDC e Gartner falam em 10% no ano passado), os dados podem ser considerados bons. Já o faturamento do Office despencou 24%. Os dois produtos sempre foram a galinha de ovos de ouro da Microsoft. Aqui dá pra ver que a esperada queda financeira está acontecendo.
Há, porém, notícias boas na divisão. A receita da divisão responsável pelo tablet Surface mais que dobrou: de US$ 400 milhões para US$ 893 milhões. A Microsoft não fala se dá lucro e o número, mesmo após dobrar, ainda é menor que o prejuízo de US$ 900 milhões que a empresa engoliu por não vender tantos Surface RTs. Se somarmos os tablets Surface mais os smartphones da Nokia, pode-se dizer que a Microsoft vendeu cerca de 10 milhões de gadgets móveis no último trimestre. No terceiro trimestre, a Apple vendeu 45,8 milhões de produtos, entre iPhones e iPads. Ainda é pouco para tablets e smartphones, mas mostra que os números vêm crescendo.
Outro destaque foi a subdivisão de Xbox: foram 7,4 milhões de consoles, sendo 3,9 milhões do Xbox One e 3,5 milhões de Xbox 360. O mais surpreendente dos dois números: um gadget com mais de nove anos vendeu quase o mesmo que um recém-lançado, ainda mais por que o Xbox One vendeu menos que seu rival Playstation 4, da Sony (4,2 milhões de unidades).
Mas quem compensou de verdade o baque financeiro dos produtos e serviços para consumidores foi a divisão Commercial, voltada a clientes corporativos. O Windows Server faturou 12% mais que no ano passado. O dinheiro vindo da nuvem mais que dobrou e até o licenciamento de Windows para grandes empresas cresceu 10%. No geral, a divisão faturou 10% a mais que no mesmo trimestre do ano passado, baseado em serviços que o usuário comum não faz a menor ideia que a Microsoft oferece. Apresente ao seu tio nomes como Azure, Hyper-V, Dynamics CRM ou SQL Server e pergunte de qual empresa de tecnologia são estes produtos. Aposto um picolé de limão que ele vai te olhar com cara de dúvida.
Não se sabe quanto mais o mercado de desktops e laptops vai cair. A dúvida do tamanho do buraco onde a Microsoft se meteu esta aí. Mesmo que ainda despenque mais (e os indícios é que a queda está desacelerando), a empresa tem mostrado que tem outros meios de fazer dinheiro.
Mérito, quem diria, da estratégia de dispositivos e serviços martelada por Steve Ballmer nos últimos anos. O folclórico CEO pode ter cumprido sua cota de estratégias erradas no passado (a compra da aQuantive, o natimorto Kin, o ultramobile Origami, a tentativa de peitar o Google em busca…), mas parece que vai entregar ao seu sucessor a Microsoft em uma situação não tão ruim assim. Sua saída é indício de que a empresa não está vivendo um paraíso. Entre smartphones e tablets, ela vai ter que brigar com a dupla Motorola/Google para tomar a posição de alternativa entre Apple e Samsung. Mas os números dos últimos trimestres mostram também que o fatalismo ao seu redor é exagerado.
Fonte: Epoca Negocios. Que crise é esta na qual a Microsoft lucra como nunca?Acesso: 28 de Janeiro de 2014.
Fonte: Epoca Negocios. Que crise é esta na qual a Microsoft lucra como nunca?Acesso: 28 de Janeiro de 2014.