quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Brasil precisa superar preconceito contra educação técnica

No Brasil, 6,6% dos estudantes cursam ensino médio em conjunto com alguma forma de ensino profissionalizante. Em países da OCDE – grupo formado por nações ricas – são 46%. O número é repetido sempre pelo diretor-geral do Senai, Rafael Lucchesi, para convencer qualquer interlocutor que, pelo bem da competitividade brasileira, o país precisa perder a visão “bacharelesca” de que só existe a universidade como caminho para quem termina o ensino médio.“Temos que superar essa resistência corporativista que existe de que educação instrumental não forma para a cidadania. É a maior bobagem”, disse Lucchesi, que é também diretor de Educação e Tecnologia da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Segundo ele, o salário inicial das dez profissões de formação técnica mais demandadas pelo mercado superam a média das graduações. Mas os benefícios não são somente para quem completa um curso técnico. Vai também para o país.
“Você melhora a competitividade, organiza melhor o mercado de trabalho - à semelhança dos países desenvolvidos – e amplia a possibilidade de mobilidade social”, defendeu Lucchesi.
O diretor geral do Senai debateu nesta segunda-feira como aumentar a produtividade brasileira no EXAME Fórum, que ocorreu na capital paulista.
Outras soluções e problemas
Também presente ao debate, o presidente da IBM Brasil, Rodrigo Kede Lima, atestou na prática o que muitas empresas de qualquer porte alegam: a dificuldade de encontrar mão de obra qualificada no país, particularmente para o setor de tecnologia.
O problema é que a questão está longe de ser resolvida. Pelo contrário: a sensação do presidente da IBM Brasil é de que o país continua perdendo grandes talentos.
“Hoje eu tenho mais brasileiros trabalhando na IBM no exterior que o contrário. Tenho exportado muita mão de obra brasileira qualificada. Países como China e Índia têm procurado talentos aqui para levar a essas localidades”, afirmou Kede Lima.
Para Naércio Menezes Filho, coordenador do Centro de Politicas Públicas do Insper, atacar o gargalo de qualidade da educação hoje no Brasil não implica necessariamente no aumento de gastos.
Tramita no Congresso o Plano Nacional de Educação, que eleva para 10% os recursos destinados ao setor, hoje em cerca de 6,1% do PIB.
“O problema principal é gestão. A proposta de aumentar para 10% não significará melhor aprendizado dos alunos se não melhorar a forma como os recursos são geridos. A cidade de Sobral (CE) conseguiu num espaço de 7 anos ir de um nível mínimo para um nível da OCDE em todos os indicadores. O que mostra que é possível mudar. Se todos fizessem o que Sobral fez, estaríamos em nível de primeiro mundo”, afirmou o especialista em educação.
Marco Prates

Fonte: Exame, acesso em 02 de outubro de 2013.

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