O economista Gustavo Franco sinaliza a tendência de o poder sobre o crescimento estar mais nas mãos dos empresários
Para encerrar o primeiro dia do HSM Expomanagement 2012, Gustavo Franco, sócio-fundador e estrategista-chefe da Rio Bravo Investimentos e ex-presidente do Banco Central do Brasil, abordou tendências para a economia brasileira, traçando riscos e oportunidades.
Franco avaliou o papel dos bancos centrais em conjunto com outras instituições financeiras: “Se olharmos o Banco Central juntamente com o BNDES, FGS, Caixa Econômica e Banco do Brasil como um grande complexo, comparável ao Banco Central Chinês. Temos um grupo capaz de mover uma barreira de poder ‘profano’ de pedaços de papel e construir ativos de boa qualidade sem impacto inflacionário e sem ilusões”, afirmou.
Ele ainda afirmou que, atualmente, os bancos centrais caminham na contramão da pregada independência, porque os bancos centrais estão agindo junto com os governos.
O economista propõe que o dinheiro seja encarado como uma espécie de cota de um fundo: “Os ativos são comprados para que o sistema não caia em lapso. O dinheiro não tem lastro. É um pedaço de papel que os bancos fabricam em qualquer quantidade e, dependendo do que se faça com ele, o valor não vai se deteriorar”.
Analisando a conjuntura mundial, ele afirma que há um problema fiscal global. No Japão, as necessidades de financiamento passam de 60% do PIB, mas no Brasil, em 2012, a rolagem de dívida não é um problema, porque a dívida pública é rolada em mercados locais. “Ao todo, 17,9% do PIB está comprometido com necessidades de financiamento”, anuncia.
Para o palestrante, a evolução da dívida dos países só chegou ao ponto atual no Pós-Guerra. “Repressão financeira e inflação foram aceitas após a guerra, porque as pessoas tinham uma postura consensual em relação aos governos vencedores, e os derrotados faziam sacrifícios financeiros pelo bem do país. O que sobra hoje é a inflação, o que a faz aliada da crise”, explicou.
Onde reside nosso crescimento?
De acordo com o ex-presidente do Banco Central, o crescimento brasileiro, que gira em torno de 4% há muitos anos, não é ruim, mas é puro reflexo do consumo e da estrutura populacional brasileira. “A pirâmide populacional brasileira está começando a ser mais estreita na base, com a redução na taxa de fertilidade, diminuindo o perfil etário da população brasileira. A idade modal está entre 15 e 25 anos”, explica.
Com isso, há um bônus demográfico, já que a maior parcela da população brasileira está economicamente ativa, ou seja, está em idade favorável ao trabalho. “Pense em uma família que há 20 anos tinha cinco filhos, com o marido e a esposa trabalhando. A realidade por si só faria a distribuição de renda ser ruim. Hoje, o retrato dessa família é que, no mesmo domicílio, existem sete pessoas trabalhando, das quais três ou quatro estudam e um é aposentado e possui crédito consignado –o que faz com que essa família consiga se endividar, aumentando sua capacidade de se alavancar operando em conjunto e incrementando, portanto, a capacidade de consumo”, simplifica Franco.
O crédito no Brasil representava 25% do PIB em 2003 e, em menos de uma década, dobrou de tamanho, chegando a 51% em 2012. “A demografia combinada com o aprofundamento financeiro e o acesso ao crédito produziu um consumo alavancado que resultou em 4% de crescimento no Brasil.”
O futuro depende de confiabilidade e produtividade
O futuro da economia reside na produtividade, na visão de Franco. A base de sua argumentação é o fato de a economia brasileira estar em pleno emprego. “A demanda está fraca, e o governo está tentando acordá-la com o consumo”, sinaliza.
Entretanto, enquanto a China investe 45% do PIB, o Brasil investe apenas 18%. “O que tem acontecido nos últimos tempos é que os investimentos estão caindo, porque as empresas estão menos confiantes para se comprometer com projetos de ampliação de capacidade produtiva”, comenta.
Segundo a avaliação do palestrante, o Brasil está em equilíbrio vicioso balizado em três pilares: pleno emprego, demanda fraca e desconfiança. “Há uma crise de identidade no capitalismo brasileiro. O capitalismo tem vitalidade por conta de seus empresários visionários e inovadores. Se eles tiverem confiança no futuro, produzirão crescimento e não ficaremos reféns apenas do governo”, finaliza.
Portal HSM
Fonte: http://www.hsm.com.br/artigos/economia-nas-maos-dos-gestores-privados acesso em 06 de novembro de 2012.
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