sexta-feira, 25 de maio de 2012

Você é dono do seu tempo?


Há duas semanas, recebi uma sugestão de tema para o blog de uma profissional que queria se inscrever em um workshop meu sobre Trabalho & Stress. O evento era para um grupo de empresários convidados, numa 5ª feira pela manhã. Ela, como todos os participantes, teria que se ausentar do escritório a manhã toda, o que demandava certo planejamento e autonomia de agenda. Como não pôde participar, me escreveu sugerindo o tema “autonomia x tempo”, que achei muito relevante para nossas reflexões sobre carreira, vida pessoal e prioridades.
Lembro de um episódio pessoal em minha carreira, quando minha filha mais nova nasceu. Eu era gestor de uma grande empresa e estava no meio do processo de aprovação de um projeto enorme. No meio da tarde do dia seguinte ao nascimento, tive que sair da maternidade e deixar minha família sozinha e passar horas na empresa discutindo detalhes de finalização com meu chefe, que estava especialmente difícil naquele dia. Lembro da sensação de angústia que senti ao ter que deixar minha mulher e minha filha, ao me ausentar de um dos momentos mais significativos da minha vida adulta (o nascimento de um filho), para dar conta dos entregáveis do trabalho. Tive que fazer, cumprir com minha responsabilidade, mas senti muito no lado pessoal, o que não esqueço até hoje. E sei que não sou exceção.
Lógico que temos que ter responsabilidade sobre o que gerimos e tocamos, pois queremos não somente fazer o trabalho bem-feito, mas também criar oportunidades de ascensão profissional que têm como mola propulsora nosso histórico de cases, projetos de sucesso e conquistas ligadas ao mundo corporativo. Mas onde fica a vida pessoal nisso tudo? Com que habilidade conseguimos equilibrar os diferentes pratos desta balança? Acho até que a melhor metáfora nem é a de uma balança, mas sim a de um daqueles malabaristas de circo, que ficam equilibrando diversos pires que giram em varetas altas. Às vezes, alguns pires caem. Quanto pires você deixou cair nos últimos 2 anos de sua vida? Me refiro a pires importantes, como momentos relevantes do desenvolvimento de um filho, um casamento, uma viagem com a família, ou mesmo sua saúde? Ou então os pires relacionados ao trabalho, que caíram e quebraram por falta de planejamento ou habilidade de gestão, como uma promoção, um novo projeto, uma oportunidade perdida de reciclagem profissional, um cliente que optou pelo concorrente ou, num caso extremo, uma demissão?
A era que vivemos atualmente é a dos excessos. Excesso de trabalho, de deadlines, de informação, de conectividade, de entregáveis, de dívida com a vida pessoal, de projetos simultâneos, de compromissos, de corrida atrás do relógio. Gerir o próprio tempo com autonomia, responsabilidade e excelência é uma arte, uma habilidade ímpar para qualquer profissional hoje em dia. Equilibrar a agenda entre os compromissos do trabalho e da vida pessoal, entre as prioridades dos dois lados, é fator fundamental para uma vida mais plena, de maior significado, mais feliz. Tempo para a análise adequada de uma oportunidade no trabalho, para o lançamento de um novo produto, para a integração de um novo profissional ao time, para o devido preparo para uma apresentação importante. Tempo para assistir a apresentação do seu filho na escola, para buscar uma pessoa especial no aeroporto, para jantar na casa de pais ou amigos, para cuidar de alguém que queremos bem e que precisa de nós.
Pessoalmente, não acredito em fórmulas mágicas. Defendo a organização, o planejamento e a disciplina. Por conta disso, afirmo: faça de sua agenda uma prioridade, um guia para a administração de seu tempo. E refaça tantas vezes quantas forem necessárias, para dar conta dos imprevistos e do imponderável que nos cerca no trabalho, com pedidos de última hora, reuniões não planejadas, oportunidades ou crises-surpresa. Atualize diariamente suas pendências, e dê conta das mais importantes, das urgentes, das que você realmente precisa resolver agora. O ciclo pode ser virtuoso ou vicioso. Planejamento gera controle, que gera iniciativa e priorização, que gera produtividade, que alimenta a satisfação e auto-estima, que  cria espaço para criatividade, que traz melhores resultados no trabalho, ou mais tempo para a vida pessoal. O contrário é rigorosamente idêntico, começando e terminando no descontrole. No trabalho e na vida pessoal.
O momento especial do nascimento de um filho não volta mais. O grande projeto de hoje vira uma lembrança do passado. O que deve permanecer é o aprendizado sobre o equilíbrio entre ambos, com planejamento, flexibilidade e autonomia. Autonomia para decisões que podem ser importantes para nossa vida profissional e pessoal, e que permite escolhas conscientes e sensatas sobre nossas prioridades, nossa trajetória e nosso futuro.
“Que fiz de meu dia? Tanta correria. (…)
Bolas, desta vida, que lembrança lida, cantada, sonhada ficará do nada que fui eu (…)?”
Carlos Drummond de Andrade

André Caldeira 

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