Você é o produto
Nunca houve tanta informação disponível. Deixamos rastros
digitais do que fazemos na internet e, graças aos celulares inteligentes,
também do que fazemos fora dela. A capacidade de analisar um volume cada vez
maior de dados tem entusiasmado empresas, que se tornam capazes de traçar
perfis mais precisos de cada consumidor e de fazer ofertas mais certeiras de
produtos e serviços.
Mas as pessoas estão confortáveis com isso? Existe uma
frase muito repetida quando se discute marketing digital: “Se você não paga por
um produto, você é o produto”. Isso significa que, quando alguém usa
gratuitamente uma rede social ou um serviço de busca, oferece em troca do
serviço suas informações, e com isso pode ser vendido a um anunciante.
O modelo não é novo. A TV aberta e o rádio, por exemplo,
sempre funcionaram assim, com a venda de audiência. A diferença é que as
empresas de internet têm informações personalizadas de cada um de nós, e não
existe muito controle do que é feito com esses dados.
Uma pesquisa da Universidade da Pensilvânia, divulgada
semana passada, mostrou que os consumidores americanos sentem mais resignação
do que entusiasmo por essa situação. Cinquenta e cinco por cento dos
entrevistados consideram que não está tudo bem quando uma loja usa suas
informações para traçar um perfil pessoal e melhorar o atendimento. Apesar
disso, 65% aceitam que têm pouco controle sobre o que os profissionais de
marketing podem aprender sobre eles na rede.
Todo mundo já teve uma amostra, ainda que rudimentar, do
que é essa coleta de informações. É só visitar a página de um produto num site
de comércio eletrônico que ele começa a pipocar em anúncios em várias das
páginas visitadas depois. Essa prática, conhecida por “retargeting”, ainda é
pouco inteligente, pois continua a mostrar até mesmo o produto que já foi
comprado. Existem formas mais efetivas, que levam em conta informações de mais
longo prazo sobre interesses e hábitos de consumo de cada um.
Alguns aplicativos de celular parecem inofensivos, mas
escondem seu objetivo verdadeiro que é coletar informações. Você baixa um
aplicativo simples de lanterna ou calculadora, e não repara que, na instalação,
ele pede permissão para acessar muitos dados, como localização, navegação na
internet e agenda de contatos. Na verdade, o software é um espião, e opera
legalmente porque foi autorizado a espionar.
As pessoas precisam ter mais controle sobre o que
acontece com suas informações. O Ministério da Justiça tem uma consulta pública
em andamento para elaborar o anteprojeto de Lei de Proteção de Dados Pessoais,
que vai até 5 de julho.
É importante ficar
atento, para pagar com informações pessoais apenas serviços que realmente
valham a pena.
Fonte: Estadão – Renato Cruz – 07/06/15
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