O caso do mercado de máquinas fotográficas é um bom exemplo. A evolução tecnológica teve, sem dúvida, enorme impacto nele. As máquinas digitais definitivamente mudaram tudo – e, em tempos de altíssima conectividade, caíram como uma luva para as pessoas que compartilham sua vida com o mundo.
Mas existir o filme e precisar da revelação não era um grande problema para as pessoas. Ninguém deixava de registrar um momento único porque depois teria um enorme transtorno em revelar as fotos. Foram outras soluções que resolveram melhor os problemas que as pessoas tinham.
Basta analisar qual a empresa que mais vendia câmeras digitais em 2005. Kodak? Sony? Canon? Nikon? Não. Quem mais vendeu câmera fotográfica em 2005 foi a Nokia! Isso mesmo, a fabricante de celulares! Pois desde 2003 já se vendia no mundo mais câmeras digitais integradas em telefones celulares do que câmeras independentes.
Um grande problema que as pessoas tinham não era o trabalho de revelar o filme depois de registrado aquele momento inesquecível, mas justamente o de estar com o aparelho fotográfico no momento exato em que se queria registrar o tal momento (e óbvio, poder compartilhá-lo imediatamente!). Poucas pessoas passavam o dia inteiro com suas máquinas digitais no bolso, mas o celular sempre estava lá.
E não foi apenas o aparelho celular que resolveu problemas aproveitando o novo cenário tecnológico. Em 2002, Nick Woodman percebeu que diversos segmentos de clientes buscavam um tipo de solução bastante específica no mercado de fotografia, mas que não havia ainda uma solução realmente adequada. E ele criou a GoPro. O problema que ele identificou que precisava ser resolvido? Capturar imagens de ação. Simples e extremamente específico.
E o que aparentemente poderia ser confundido com algo restrito apenas a praticantes de esportes radicais mostrou ser um mercado gigante: em 2011 a GoPro atingiu faturamento de 250 milhões de dólares. Hoje, o uso do aparelho se estende desde cientistas que enviam astronautas ao espaço, pesquisadores nas profundezas dos oceanos, equipes de resgate em locais remotos (foi usada no resgate dos mineiros chilenos presos na mina em 2010), médicos-cirurgiões, empresas de petróleo, militares... até os mais diversos programas de reality-shows da TV e simples turistas se divertindo em montanhas-russas.
Aos olhos da maioria das pessoas, talvez apenas os praticantes de bungge jump e paraquedismo tivessem esse problema. O próprio empreendedor diz ter iniciado o projeto após uma de suas viagens para surfar, decepcionado de não conseguir registrar os momentos radicais com a devida qualidade. Mas ao se projetar algo tão adequado para resolver o problema desse segmento de clientes, descobriu-se um encaixe perfeito para inúmeros outros.
Empreendedores em busca de negócios inovadores devem agir como investigadores, como médicos que procuram pelas dores de seus pacientes. E considere que:
· Inovações tecnológicas podem mudar completamente alguns mercados, mas os produtos e serviços que realmente fazem a diferença para as pessoas são aqueles que são endereçados adequadamente à resolução de um problema significante;
· Quando se encontra a combinação de um problema muito específico - que ainda não possuiu uma solução exatamente adequada - e que muitas pessoas precisam tê-lo solucionado, é um indício de que realmente pode existir uma grande oportunidade;
· Resolver um problema que você, sua família, grupo de amigos ou colegas de trabalho possuem é um bom começo - não uma garantia de que existirá um grande mercado pra solução criada. Mas, se não resolve o problema de ninguém, não ter mercado passa a ser uma certeza!
A maioria dos problemas não está tão aparente quanto o resolvido pelos celulares com câmeras. Muitos outros já são solucionados pelas pessoas de forma parcial ou adaptada, tornando-se mais difíceis de serem percebidos. Daí vem a extrema necessidade do empreendedor de desenvolver e aguçar seu faro para desvendar problemas.
*Rafael Duton é empreendedor, professor e fundador da Movile e da aceleradora de negócios digitais 21212. Empreendedor Endeavor desde 2003.
Rafael Duton
Fonte: http://exame.abril.com.br/pme/noticias/como-identificar-problemas-para-criar-grandes-negocios?page=2 acesso em 01 de Agosto de 2013
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