No mercado de trabalho, a exigência pela qualificação técnica dos jovens está cada vez maior e mais apurada. Ter fluência em uma segunda língua, conhecimento no mínimo intermediário em uma terceira, vivência no exterior, faculdade de primeira linha, rapidez de raciocínio, atividades extracurriculares que demonstrem o dinamismo do candidato e até, em alguns casos, vivência em trabalhos voluntários. Isso tudo, de preferência, antes da primeira graduação.
E nos últimos anos, alguns comportamentos se transformaram e a aspiração pela conquista dos objetivos deixou de ser apenas do indivíduo e passou também a representar os sonhos dos pais, como parte do processo educacional, gerando toda a pressão que observamos sobre a geração Y, que em muitos cenários precisa ser mais conectada, mais talentosa e mais inteligente que qualquer outra geração.
Após a leitura do meu livro Geração Y: Ser Potencial ou Ser Talento, a consultora de gestão Beatriz Carvalho diz ter ficado com o título ecoando em sua cabeça por mais alguns dias, a ponto de duvidar quem, na vida real, seria o interlocutor mais adequado para apresentar essa questão; as gerações mais antigas – incluindo chefes e pais, como uma forma de provocar o interesse do jovem pelo seu próprio desenvolvimento – ou justamente o jovem, como uma forma de autocobrança, em função das expectativas externas e internas investidas nele?
Para Beatriz é natural que o círculo de pessoas mais próximas desse jovem, que investiu e torceu durante todo esse período preparatório, comece a gerar expectativas sobre ele, que tendem a aumentar a cada nova conquista. Sabendo ele disso, a expectativa interna também virá, inicialmente como fonte de motivação, mas que, se mal gerenciada, pode se tornar um sentimento negativo de pressão, gerando a grande insegurança que muitos jovens podem sentir dentro desse contexto.
“No mais dramático dos dilemas, você se pergunta: Como é que eu, jovem potencial, credibilizado por mim e por aqueles que acompanharam minha trajetória, consigo promover essa grande alavancagem profissional, de maneira a deixar de ser apenas um potencial e passar a ser um caso real de talento, comprovado através de uma conquista que de fato marque minha carreira e que me deixe livre do peso de ter que viver apenas com base nos desejos e ambições que guardo na gaveta?”, questionou a consultora.
Taís Targa, psicóloga e especialista em transição de carreira, acha inegável a cobrança que o mercado de trabalho transfere para a geração Y, a qual muitas vezes teve oportunidades fantásticas de qualificação técnica e muito mais tempo de estudo que a geração anterior. “Geralmente os pais realizaram um alto investimento financeiro e emocional na educação de seus filhos e têm expectativas altamente ambiciosas no que diz respeito ao sucesso na carreira. Repetidas vezes ouço relatos como: ‘Eu trabalho duro, engulo muito sapos para dar uma educação melhor ao meu filho, de forma que ele nunca passe por isso.’”, comentou a psicóloga.
No entanto, para Taís, esse comportamento protetor dos pais acaba por gerar muita ansiedade em toda a família, pois transferem um ideal de vida e de sucesso sem pressão e sofrimento, de forma que essa nova geração acaba tendo dificuldades de ordem comportamental, por não conseguir corresponder aos ideais familiares. “Adversidades são cruciais para o desenvolvimento de certas competências comportamentais. Resiliência, habilidade de trabalhar sob pressão, resistência à frustração… Alguns percalços no caminho são tão importantes para formar um profissional seguro e automotivado quanto uma boa formação técnica”, explicou ela.
Contudo, há coisas que não podem ser alteradas. Todo processo de desenvolvimento exige algum tipo de obstáculo e um objetivo. Sem esses elementos, não há como despertar a aspiração, a qual permite o crescimento resultante da superação do obstáculo. Esse é um processo individual e completamente dependente das escolhas que cada um faz em sua trajetória. Ser um sucesso sempre será um conceito que primeiramente precisará de validação pessoal e somente depois disso que o jovem deverá considerar a validação das outras pessoas.
Beatriz ainda diz que é preciso acreditar no poder de suas escolhas e na capacidade de transformação. “Se você tem muito claro seu conceito de ser talento ou o que a palavra ‘sucesso’ representa para você, não importa o tamanho do seu sonho ou o que as outras pessoas acham a respeito. Agradeça aos pais, aos chefes e aos amigos pelo investimento e pela torcida, mas nunca duvide que, no final das contas, a decisão pelo seu futuro está unicamente em suas mãos”, concluiu a consultora.
Sidnei Oliveira
Fonte: http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/sidnei-oliveira/2013/05/27/acredite-no-poder-de-suas-escolhas-2/ acesso em 28 de Maio de 2013
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