Quem lê meus artigos sabe que eu sou um pouco cético com essa questão de empreendedorismo nas empresas, o chamado intraempreendedorismo. Apesar da boa vontade de alguns para estimular o ambiente empreendedor, é difícil cria-lo em meio a políticas, normas e procedimentos que, por vezes, acabam inibindo a criatividade das pessoas.
Empreendedor legítimo é aquele que, a despeito de todas as adversidades ao longo do caminho, quebrou a ordem dos acontecimentos e, contrário a tudo e a todos, prosperou. É difícil partir do zero, com apenas uma ideia na cabeça, pouco apoio e prosperar. Isso faz parte da história de muitos empreendedores.
Por outro lado, empreender nas grandes empresas, em meio a recursos abundantes, é bem mais fácil. Além do mais, em pleno século 21, não é mais admissível que as empresas continuem dependendo apenas das mentes brilhantes que criaram o negócio.
Felizmente, não foi o que ocorreu com a Apple, depois de Steve Jobs, com a GE, depois de Jack Welch, com a 3M, depois de William McKnight e com a TAM, depois do Comandante Rolim embora esta última tenha decaído muito nos últimos tempos, mesmo favorecida pela prosperidade econômica e a concentração do mercado na mão de poucos.
Apesar de o Brasil ser considerado um país pouco inovador, alguns líderes estão se preparando para deixar as empresas isentas da dependência extrema de si mesmos. É o caso da Natura, de O Boticário, do Grupo Votorantim e do próprio Grupo Pão de Açúcar, entre outras.
Como fazer, então? Não quero reinventar a roda. Há pouco tempo li vorazmente o livro O Poder da Inovação, de Luiz Serafim, onde ele narra sua experiência de vinte anos como head de marketing corporativo da 3M, considerada uma das empresas mais inovadoras do mundo, em diferentes países. Um livro, no mínimo, instigante e enriquecedor, por assim dizer.
Com base nisso e mais a minha experiência pessoal nesse campo, compartilho aqui as bases do pensamento inovador capaz de fomentar a cultura empreendedora nas empresas. Perdoe a ousadia, mas, sem isso, não existe a mínima possibilidade de a sua empresa criar um ambiente favorável ao empreendedorismo. Vejamos:
1. Valores: tudo começa com a definição dos valores, os quais, geralmente, estão associados ao futuro da organização. Como queremos ser vistos nos próximos 5, 10 ou 20 anos? Se a empresa quer, de fato, ser reconhecida como inovadora e empreendedora, este valor deve estar claro na visão e na missão, tanto para o público interno quanto para o público externo. A inovação está no DNA da 3M, desde 1930, quando as primeiras iniciativas foram tomadas por William McNight.
2. Mudança de comportamento: se os valores estão claros e a empresa vai adotar essa bandeira, o comportamento precisa mudar. A maneira como as pessoas trabalham e produzem algo é um processo que deve evoluir em todos os níveis hierárquicos. Um velho ditado permanece vivo: para obter o que você nunca obteve é preciso fazer algo que você nunca fez. Simples assim!
3. Autonomia: segundo Serafim, um dos fatores mais importantes da empresa inovadora é delegar autonomia aos funcionários. Quando se trata de inovar e empreender, o perfil centralizador já não funciona mais. Conceder autonomia não significa conceder liberdade total nem atribuir responsabilidade maior do que a pessoa pode suportar, mas, estabelecer metas desafiadoras e atingíveis para o fim desejado.
4. Estímulo ao empreendedorismo: num ambiente fechado a sugestões, onde impera o medo, intolerante aos erros e desrespeitoso com as pessoas, não há como fomentar o empreendedorismo; a sensação de liberdade e autonomia favorecem a concepção das ideias e a experimentação.
5. Cultura de tolerância ao erro: quem empreende, ousa ou atreve-se a buscar novas trilhas que levam a melhores resultados não consegue acertar todas as vezes, portanto, inovar e empreender é sinônimo de arriscar. Erros são comuns e inerentes ao processo de inovação. Tolerar fracassos é vital para estimular as equipes a um novo recomeço. A crítica mata a iniciativa.
6. Tempo dedicado à inovação: essa ideia original é da 3M, cuja semente foi plantada em 1923. Na década de 1940, principio se formalizou e permitiu que toda a comunidade técnica da empresa passasse a desfrutar de 15% do tempo de trabalho para se dedicar a projetos apaixonantes. Art Fry, cientista da 3M, usou os 15% do tempo para desenvolver o bloco de recados autoadesivo mais famoso do mundo, o Post-it.
7. Reconhecimento: se um colaborador demonstra comprometimento e energia para avançar além das fronteiras da descrição do cargo, usando imaginação e conhecimento para agregar valor à empresa, aos clientes e à sociedade, qual o problema em reconhecê-lo, distinta e financeiramente? Bill Gates, Steve Jobs, Sergey Brin, Larry Page e Mark Zuckerberg não ficaram ricos sozinhos.
Por fim, lembrando Peter Drucker, a administração empreendedora exige uma administração diferente daquela que existe. Há necessidade de que todos os empreendedores com determinação decisões sobre seus próprios papéis e seus próprios compromissos.
Pense nisso, empreenda mais e melhor!
Jerônimo Mendes
Fonte: http://www.administradores.com.br/artigos/administracao-e-negocios/como-criar-um-ambiente-favoravel-ao-empreendedorismo/69518/ acesso em 26 de Março de 2013.