terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

PORTOS: SÓ PRIVATIZAR NÃO RESOLVE


Os debates e as práticas da privatização no país felizmente estão saindo de uma discussão carregada de ideologia para uma focalizada nos aspectos gerenciais e organizacionais, ou seja, naquilo que efetivamente interessa à sociedade.
Vejamos o caso mais recente. Na semana passada, o governo brasileiro divulgou as novas regras para a privatização de 159 terminais de 24 portos.
Finalmente, demos um primeiro passo a caminho de minimizar ou resolver o grave problema da entrada e saída de mercadorias que utilizam o transporte marítimo. A iniciativa é louvável e um ótimo caminho.
Há muito tempo que se sabe ser absolutamente fundamental obter maior eficiência dos portos brasileiros. E o que não faltam são dados que mostram como boa parte dos nossos portos não funciona como deveria e se transforma em obstáculo para o desenvolvimento econômico do país. Por exemplo, o “desembaraço” demora, em média, 5,5 dias, quase o dobro da média mundial (2,9 dias). E os custos de alguns portos estão entre os mais altos do mundo.
Esse tem sido um dos problemas de competitividade do país que torna nossos produtos difíceis de serem exportados, oneram a economia, os consumidores e as empresas.
Por anos, e sem surpresa, a gestão estatal mostrou-se ineficiente, carregada de influências políticas e interesses ocultos, em que gastar mais e não atender a necessidade dos clientes parecia ser a regra, ao contrário do que esperamos, que é gastar menos e prover melhores serviços.
A grande novidade é que não será mais o maior lance de quem oferece pagar mais ao Estado que vai definir quem será o vencedor das concessões. A qualidade do serviço deverá ser o critério mais importante.
A experiência brasileira com privatizações de serviços públicos e mesmo qualquer tipo de compra pública que coloca o critério econômico como central mostrou-se bastante limitada. Quem oferece o melhor preço e ganha uma concorrência, muitas vezes, não consegue garantir esse preço ao longo do ciclo de vida do contrato. Assim, o que parecia barato fica muito caro.
Empresas privadas também lutam com esse mesmo dilema e desafio de comprar de fornecedores que oferecem o menor preço na hora da compra, mas que no final acabam trazendo custos extras.
Muitas estão estabelecendo preço, qualidade e serviço como os critérios mais importantes, mas em um contexto de relações de parceria de longo prazo, no qual a empresa contratante coopera com seu fornecedor em melhorias contínuas que não só garantam custos e preços adequados como qualidade e atendimento, além de outros fatores, como capacidade de inovação, flexibilidade, capacidade de resolver problemas etc.
O acompanhamento e a mensuração dos indicadores-chave passará a ser uma atribuição nova dos órgãos reguladores e controladores do Estado para os quais parece haver pouca qualificação e conhecimento.
Eles precisarão ter mais conhecimento da real da capacidade do fornecedor e entender profundamente os processos utilizados que geram a qualidade dos serviços e seus custos, mesmo porque é importante que se tenha uma margem de lucro adequada para viabilizar tanto a remuneração do capital quanto permite novos investimentos.
Agências reguladoras parecem estar preocupadas mais com os aspectos legais do que com os aspectos gerenciais. O foco na lei e mesmo nos indicadores, sem se preocupar com os processos de trabalho reais que gerarão os resultados esperados, não tornará mais eficiente a gestão dos portos.
Um trabalho conjunto poderá permitir uma melhoria permanente onde as reduções de custos e as melhorias ocorram sempre através da eliminação de desperdícios nos processos criando situações de ganha-ganha.
Esses seriam novos passos que poderiam ajudar a garantir uma gestão eficiente dos portos, com maior transparência e indicadores claros. Apenas a privatização não é suficiente, mesmo porque privatizar pode significar a criação de monopólios privados sem controles que igualmente não atendem os interesses e necessidades dos clientes e da sociedade.
Mas é preciso ter a clareza que tão importante quanto mudar o gestor é mudar a mentalidade e o sistema de gestão.
Mesmo que os portos no futuro ganhem eficiência, isso ainda é apenas a ponta do iceberg. Deve-se pensar em melhorias do sistema logístico como um todo – não apenas em uma ponta ou outra. A atividade de logística onera bastante as empresas sem agregar valor ao produto.
As empresas precisam reduzir cada vez mais os lead times, reduzir os estoques ao nível do necessário para garantir o abastecimento sem faltas e sem excessos.
Uma gestão eficiente dos portos é um primeiro passo. Mas é preciso ir muito além para tornar o país e suas empresas mais competitivos.
José Roberto
Fonte: http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Visao/noticia/2013/02/portos-so-privatizar-nao-resolve.html acesso em 26 de fevereiro de 2013.

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