sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Me engana que eu gosto!


“Líder servidor”: esse é o bordão que mais aparece na atualidade quando o papo é formação de lideranças. Se tiver dúvidas, dê uma googlada e verá algo como seis milhões de referências indexadas pelo rei dos buscadores para essa expressão!
Êpa! Tem algo aí no gênero “me engana que eu gosto”.
Isso me soa mais como uma tentativa de horizontalizar demagogicamente a posição do líder do que resolver problemas que a administração tradicional não consegue resolver mais. Uma tentativa meramente retórica de fazer evoluir uma cultura de administração que ainda se encontra predominantemente baseada no famoso modelo de gestão conhecido como Comando-e-Controle (CC). O modelo CC é um paradigma que herdamos dos chefes militares de mais de cinco mil anos, que resulta em organizações fortemente hierarquizadas, burocráticas e orientadas por processos que tendem a tornar o ser humano uma engrenagem facilmente substituível.
O Comando-e-Controle ortodoxo está claramente de prazo vencido desde o final do século passado. Ele termina por construir ambientes organizacionais asfixiantes e difíceis de aturar que são característicos de empresas das quais as pessoas pulam fora com mais facilidade, e nas quais os mais talentosos são os mais difíceis de reter. O que fazer quando o chicote não está mais fazendo efeito?
Nesse contexto, o papo de “líder servidor” me parece a tentativa bem intencionada de melhorar a gestão fazendo com que liderança se espelhe em ícones de humildade como Gandhi, Madre Teresa de Calcutá, São Francisco de Assis, etc. Quem sabe se o chefe virar um cara bonzinho, legal e bacana as coisas não ficam mais fáceis de fazer acontecer? Mas, ainda que o chefe seja em termos de atitude o campeão da empatia e da humildade, eu acho que não basta.
Não vejo consistência suficiente na argumentação “líder servidor” como um marco que, de fato, estabeleça um novo patamar de sistema de gestão mais eficaz e eficiente. Um sistema que resulte tanto em genuíno empowerment quanto de desenvolvimento dos liderados, de forma a fazê-los render muito mais do que eles próprios imaginam.
E você? Acredita mesmo que essa história de que “líder servidor” é uma saída evolutiva para transformar as empresas em organizações adaptadas para a Economia do Conhecimento que estamos adentrando? Ou você pensa como costuma dizer Clemente Nobrega, meu colega de blog aqui do lado, que isso é só mais um “papo da gurulândia da gestão”?
Ricardo Neves
Fonte: http://colunas.revistaepocanegocios.globo.com/foradacaixa/2013/02/21/me-engana-que-eu-gosto/ acesso em 22 de fevereiro de 2013.

Nenhum comentário:

Postar um comentário