Um grave problema de nossa cultura é que ela é avessa à responsabilidade. Por essa razão, é fácil encontrar pessoas dispostas a fazer qualquer coisa, desde que não sejam cobradas pelos resultados de seus atos. Assim, indivíduos irresponsáveis fazem o que desejam, sem observar leis, regras, procedimentos e métodos, nem consultar profissionais habilitados para orientá-los.
As pessoas querem ter sucesso e empreender, o que são objetivos válidos na esfera profissional. Assim como desejam se divertir e descansar, também objetivos apropriados em suas vidas particulares. Entretanto, em ambas as situações, são constrangidas, ou assim se sentem, ao cobrar compromissos dos demais. Principalmente quando o assunto é segurança de pessoas.
Desse modo, aquele que viaja na velocidade-limite da estrada é considerado idiota. O jovem que se nega a beber porque vai dirigir é chamado de bobo. Se ele perguntar, ou pior, afirmar que um amigo está bêbado e pedir a ele para não dirigir, será ridicularizado. Isso quando não for agredido. Agora, imagine se ele perguntar, ao ser convidado para uma festa, se o local é seguro?
Se isso ocorre entre amigos, quem ousaria cobrar responsabilidade de um estranho, de um servidor ou autoridade pública?
Precisamos compreender que uma pessoa não se torna adulta porque passou a consumir bebidas alcoólicas, fumar ou dirigir. Também não amadurece automaticamente ao casar, ter filhos ou ao assumir um cargo de gerência. Mas, sim, quando é capaz de celebrar e cumprir compromissos.
Uma tragédia, como essa de Santa Maria, nos impulsiona com rapidez à posição de julgadores daqueles que, por ato ou omissão, contribuíram para que centenas de pessoas morressem ou se ferissem gravemente. Entretanto, a dura realidade é que o país possui inúmeros indivíduos que se comportam desse mesmo modo em suas esferas de atuação. Se eu soubesse quais palavras os sensibilizariam para fazê-los amadurecer e ser responsáveis, eu escreveria aqui. No entanto, o único pensamento que me ocorre é ser repetitivo nesta mensagem e acreditar que, no longo prazo, mais pessoas serão influenciadas pela ideia de que amadurecer é algo positivo para elas mesmas e para a sociedade.
Afinal, é verdade que somos herdeiros de uma cultura, mas também somos agentes de sua transformação. Temos de valorizar quem evita uma tragédia, tanto quanto aquele que salva vidas no decorrer de uma. Entretanto, o primeiro é muito mais difícil de ser percebido. Em geral, é considerado inconveniente pelos demais, justamente por falar sobre coisas desagradáveis. É ele que insistentemente vê riscos, cobra que leis sejam cumpridas, regras e métodos, observados e que se consultem profissionais habilitados em situações complexas.
Como é o caso das questões de segurança. Enquanto acreditarmos que essas situações possam ser resolvidas com jeitinho, dicas e intuição, sempre colocaremos a vida de brasileiros em risco, principalmente dos mais jovens, que não possuem experiência, conhecimento e domínio emocional para lidar com essas questões.
Devemos, continuamente, preparar líderes e fazê-los se interessar em ocupar posições relevantes nas empresas, nos governos e no mundo. E um líder preparado sabe que é responsável pela vida das pessoas atingidas pelos resultados de suas ações.
Silvio Celestino
Fonte: http://www.administradores.com.br/noticias/administracao-e-negocios/vivemos-em-uma-cultura-da-inseguranca/73058/ acesso em 30 de Janeiro de 2013.
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