terça-feira, 24 de abril de 2012

Seu trabalho e suas meias


Certa vez, ouvi uma estória interessante sobre trabalho e motivação. Cena 1: você acorda, sonolento, faz sua higiene matinal, começa a se vestir, senta na cama para colocar suas meias, pára, boceja, dá uma olhada nas unhas, mexe nos dedos, põe a primeira meia, ajusta, se espreguiça, ajusta a meia de novo, troca a perna, pára, suspira, fica catatônico, boceja de novo, se distrai, olha para o segundo pé, mexe nos dedos de novo, apoia a cabeça no joelho, fecha os olhos, suspira de novo, põe a segunda meia, pára, ajusta, e assim vai…
Cena 2: você acorda, sonolento, faz sua higiene matinal, começa a se vestir, mal senta na cama e já colocou as duas meias, perigando inclusive ter colocado uma de cada cor, põe os sapatos, e sai de casa o mais rápido possível, com a cabeça já maquinando sobre seu dia, sobre os desafios da semana, sobre os projetos a serem tocados.
Qual a sua cena todas as manhãs?
A diferença entre as duas, além da evidente preguiça e falta de velocidade com que coloca suas meias na primeira situação, diz respeito a um fator muito importante no trabalho: a motivação, a vontade, a felicidade no trabalho. Alguns podem argumentar que a rapidez pode ser por pressa, atraso ou mesmo pressão. Mas supondo que neste caso não temos o tal deadline no dia e nem estamos atrasados? Se o nosso chefe não estiver de olho na hora em que chegamos e se não precisarmos bater o ponto?
Quando gostamos do que fazemos, quando nos identificamos com a empresa onde atuamos, trabalhar é uma alegria. Uma soma de aprendizado, realização, sensação de crescimento profissional, pertencimento. E isso se completa se ainda por cima temos um ambiente saudável, bem como pessoas com quem queremos conviver e produzir mais. Já o cenário contrário é muito mais difícil, mais preguiçoso, mais lento, mais sofrido. É aquele que glorifica o fim de semana, pois a semana é um parto a ser suportado todos os dias no escritório.
Vejo muita gente se arrastando pela vida profissional, trabalhando em função única e exclusiva do salário do final do mês. A desculpa é sempre “preciso pagar minhas contas” ou “tenho obrigações a cumprir”. Nada de errado nisso, mas a questão é: por quanto tempo? Quanto tempo se pode ficar neste piloto automático, sem buscar alternativas e novos caminhos? Quantas pessoas você conhece na sua empresa que vivem deste jeito? E você mesmo, como age?
Este comportamento pode ser chamado de demissão emocional, onde o profissional está ali somente de corpo presente, com preguiça e falta de atitude. A alma ficou em casa, ou em outro lugar, junto com a criatividade, a vontade de produzir, de fazer diferente, de tentar viver uma vida plena no trabalho.
Argumentos para a falta de atitude não faltam. Tem gente que diz que está há muito tempo na empresa, que já conhece tudo que precisa ser feito, ou que já investiu muito para chegar onde chegou, que prefere ficar com o certo do que com o duvidoso, que o mercado está difícil, etc. Mas e o tempo que está passando? E a chance de ter mais satisfação, mais orgulho, mais motivação num local onde passamos a maior parte dos nossos dias?
Um simples pedaço de papel com prós e contras do seu trabalho é o ponto de partida. O que está bom, o que não está. O que é importante para você e o que você encontra no seu trabalho. Dali surge uma constatação, que deve fazer nascer um plano de ação. Um plano para tentar encontrar mais satisfação na posição em que você está,para mudar. Isso pode incluir uma nova posição numa área diferente, ainda que na mesma empresa, uma nova pós, ou um reforço no seu network, uma atualização no currículo e envio para headhunters e bancos especializados de talentos. Comece pelo seu estado de espírito em relação ao trabalho atual, ponha do papel. Reflita, pense, mas aja!
A capacidade de mudar, de fazer acontecer está em cada um de nós. Não adianta reclamar todos os dias da sua vida, do seu trabalho, da sua rotina, e não fazer nada a respeito. Você se demitiu emocionalmente? Procure outro propósito, compre novas meias e seja mais feliz.
 “This is the true joy in life, the being used for a purpose recognized by yourself as a mighty one… the being a force of nature instead of a feverish selfish little clod of ailments and grievances complaining that the world will not devote itself to making you happy.”
(George Bernard Shaw)
   
                                                                                                           André Caldeira

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